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W.E. - O ROMANCE DO SÉCULO

Posted by Clenio on 22:39 in
A primeira coisa que é preciso ter em mente quando se propõe a uma sessão de "W.E. - O romance do século" é o fato de Madonna ter contra si a imensa má-vontade dos críticos e da própria indústria do cinema. Salvo raríssimas exceções - e mesmo assim longe de uma margem confortável de elogios - a estrela pop é sistematicamente bombardeada com uma animosidade quase inexplicável sempre que tenta a sorte na sétima arte. Um exemplo claro e insofismável dessa antipatia generalizada pela ex-mulher de Sean Penn e Guy Ritchie - ambos bem-sucedidos nas carreiras de cineastas - foi a forma violenta com que seu novo filme como diretora foi recebido de forma quase unânime. Malhado impiedosamente pela crítica, "W.E" não mereceu toda essa enxurrada de pedras. Mesmo que esteja bem longe de ser uma obra-prima - e também peque em alguns itens cruciais - a história de amor entre o rei Eduardo VIII e a americana divorciada Wallis Simpson é contada por Madonna com um senso estético e um refinamento que revelam que suas três décadas como estrela de videoclipes lhe ensinaram muita coisa.

Fotografado com requinte e sutileza pelo alemão Hagen Bogdanski, "W.E" começa com uma cena de inegável impacto, quando Wallis (Andrea Riseborough) é violentamente espancada pelo primeiro marido durante a gravidez. Essa cena - aparentemente desnecessária - fará eco mais tarde com a situação triste vivida pela jovem Wally Winthrop (Abbie Cornish), que passa por uma séria crise em seu casamento justamente por desejar ardentemente um bebê. Wally - assim batizada justamente porque sua mãe era fã da famosa Wallis - é a verdadeira protagonista do filme, deixando o romance entre a americana à frente de seu tempo e o rei que abdicou do trono por amor (e o deixou com o irmão, protagonista do filme "O discurso do rei") quase como uma trama secundária que comenta (às vezes sem a força necessária) a trajetória da Wally contemporânea e seu tímido romance com Evgeni (Oscar Isaac), o segurança russo do museu onde acontece uma exposição sobre o célebre casal. E é justamente essa opção do roteiro - escrito pela cantora e por Alek Keshishian, que a dirigiu em "Na cama com Madonna" - que acaba sendo sua maior e mais crítica falha.

Ao dividir a atenção em duas histórias que não precisariam necessariamente estar conectadas - ao menos de forma tão frágil - Madonna tira o foco daquela que poderia ser a trama mais interessante e que dá título a seu filme. A história de amor que abalou a realeza inglesa é contada de maneira um tanto confusa e superficial, obrigando a plateia a adivinhar certos acontecimentos e encontrar-se sozinha no emaranhado de imagens que sublinham a ligação entre as duas protagonistas. Demora um pouco para que o público finalmente perceba as intenções do roteiro e essa confusão é quase fatal, em especial para uma audiência não exatamente acostumada a pensar. Prejudicado ainda pelo fato de não ter astros de primeira grandeza em seu elenco - Ewan McGregor chegou a ser confirmado como Eduardo VIII mas teve de cair fora por problemas de agenda - o filme rendeu pouco mais de 500 mil dólares no mercado americano contra seu custo estimado de 15 milhões (bancados pela própria Madonna), o que apenas reitera o desprezo do público pela Madonna cineasta.

Apesar de ter custado barato, porém, "W.E" em nenhum momento passa essa impressão. Cuidadosamente produzido - chegou a concorrer ao Oscar de figurino e rendeu à cantora uma indicação ao Golden Globe pela bela canção "Masterpiece" - e visualmente excitante, é um produto que seduz sua audiência pela sutileza e pela delicadeza. Vindo de Madonna - não exatamente um exemplo de discrição - não deixa de ser positivamente surpreendente.

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