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ÁLBUM DE FAMÍLIA
Posted by Clenio
on
15:57
in
CINEMA 2014
Transpor um texto teatral para as telas de cinema não é tarefa das mais fáceis, e até mesmo diretores experientes correm o risco de cair na armadilha da adaptação literal enfadonha - haja visto Roman Polanski, que, mesmo com um elenco brilhante e seu talento inegável, não conseguiu fugir da monotonia com seu "O deus da carnificina". Portanto, não é de estranhar que "Álbum de família", baseado em um espetáculo premiado com o Pulitzer e o Tony, fique tanto a dever em termos de qualidade cinematográfica. Mesmo com um elenco de sonhos - que inclui as indicadas ao Oscar Meryl Streep e Julia Roberts juntas pela primeira vez na tela - e os diálogos vivos e quentes escritos pelo também ator Tracy Letts, falta brilho à direção de John Wells, cujo currículo inclui apenas um outro longa-metragem, o elogiado mas pouco visto "A grande virada" - além de vários episódios de séries televisivas, como "Plantão médico".
Ao contrário de Mike Nichols - que imprimiu personalidade e vivacidade a seus "Quem tem medo de Virginia Woolf?" e "Closer, perto demais", ambos adaptados de sucessos dos palcos - Wells não consegue fazer a plateia esquecer que, por trás da trama repleta de rancor, segredos e ressentimentos criada por Letts existe uma origem teatral bastante óbvia em sua estrutura e desenvolvimento de personagens. Diante dessa falha que compromete o ritmo do filme - uma surpresa, quando se sabe que o diretor vem da tv, onde é mandatório saber contar uma história com começo, meio e fim em menos de sessenta minutos - resta ao público ficar estarrecido (mais uma vez) com o talento superlativo de Streep e surpreendido com a maturidade imposta pela eterna linda mulher Roberts em um papel completamente diferente de tudo que fez até hoje no cinema.
A indicação de Streep ao Oscar de melhor atriz - sua 18ª lembrança por parte da Academia, um recorde impressionante - não representa um comodismo por parte dos votantes como muita gente fez crer na ocasião em que os indicados foram divulgados: seu trabalho com a amarga e cruel Violet Weston, matriarcca de uma família desestruturada que se reúne para o funeral do pai suicida, é brilhante, apesar de um certo maniqueísmo do roteiro que atrapalha até mesmo a empatia do espectador. Cada vez que Violet abre a boca ela solta um veneno, uma agressão, uma absoluta falta de compaixão com quem quer que seja, desde a empregada índia até suas três filhas, a quem trata com desrespeito e quase indiferença. Às três filhas - cada um com uma saudável cota de problemas - sobra apenas encontrar uma maneira de lidar com tanta amargura sem partir para a pancadaria (e nem sempre conseguem fazer isso, como mostra a genial cena do jantar familiar que acaba sendo o clímax do filme, mesmo que aconteça um tanto cedo demais).
Julia Roberts, que concorre ao Oscar de coadjuvante mesmo que sua personagem tenha tanta importância quanto a de Streep, vive Barbara, a filha preferida do pai, que abandonou a vida no interior do Oklahoma para acompanhar o marido (Ewan McGregor), de quem está separada graças a uma infidelidade conjugal - e que tem com a própria filha adolescente (Abigail Breslin) uma relação conflituosa. Juliette Lewis (voltando aos holofotes depois de um sumiço injusto) interpreta Karen, a filha desajustada e volúvel que está noiva de um homem mais velho (Dermot Mulroney) - que não demora a arrastar a asa para a sobrinha da namorada, mesmo sabendo que ela tem apenas 14 anos. E Julianne Nicholson compõe uma Ivy delicada e submissa às idiossincrasias da mãe, que encontra um caminho para ser feliz no amor apenas para vê-lo desmoronar diante de seus olhos. Completando a disfuncional família estão a irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale, ótima), seu compreensivo marido (Chris Cooper) e seu filho único, Little Charles (Benedict Cumberbatch), a quem ela trata com total desprezo.
O elenco de "Álbum de família" é espetacular, sem um único elo fraco. O texto é forte e devidamente respeitado (talvez até demais). A trama tem surpresas e reviravoltas em número suficiente para prender a atenção e a bela canção de Kings of Leon que fecha o filme traduz com perfeição o clima da obra. Mas, apesar de tudo isso, como cinema é insatisfatório. É quase um teatro filmado. Quem não se importa com isso com certeza terá duas horas de grandes interpretações. Não é pouco, mas poderia ser ainda mais.
Ao contrário de Mike Nichols - que imprimiu personalidade e vivacidade a seus "Quem tem medo de Virginia Woolf?" e "Closer, perto demais", ambos adaptados de sucessos dos palcos - Wells não consegue fazer a plateia esquecer que, por trás da trama repleta de rancor, segredos e ressentimentos criada por Letts existe uma origem teatral bastante óbvia em sua estrutura e desenvolvimento de personagens. Diante dessa falha que compromete o ritmo do filme - uma surpresa, quando se sabe que o diretor vem da tv, onde é mandatório saber contar uma história com começo, meio e fim em menos de sessenta minutos - resta ao público ficar estarrecido (mais uma vez) com o talento superlativo de Streep e surpreendido com a maturidade imposta pela eterna linda mulher Roberts em um papel completamente diferente de tudo que fez até hoje no cinema.
A indicação de Streep ao Oscar de melhor atriz - sua 18ª lembrança por parte da Academia, um recorde impressionante - não representa um comodismo por parte dos votantes como muita gente fez crer na ocasião em que os indicados foram divulgados: seu trabalho com a amarga e cruel Violet Weston, matriarcca de uma família desestruturada que se reúne para o funeral do pai suicida, é brilhante, apesar de um certo maniqueísmo do roteiro que atrapalha até mesmo a empatia do espectador. Cada vez que Violet abre a boca ela solta um veneno, uma agressão, uma absoluta falta de compaixão com quem quer que seja, desde a empregada índia até suas três filhas, a quem trata com desrespeito e quase indiferença. Às três filhas - cada um com uma saudável cota de problemas - sobra apenas encontrar uma maneira de lidar com tanta amargura sem partir para a pancadaria (e nem sempre conseguem fazer isso, como mostra a genial cena do jantar familiar que acaba sendo o clímax do filme, mesmo que aconteça um tanto cedo demais).
Julia Roberts, que concorre ao Oscar de coadjuvante mesmo que sua personagem tenha tanta importância quanto a de Streep, vive Barbara, a filha preferida do pai, que abandonou a vida no interior do Oklahoma para acompanhar o marido (Ewan McGregor), de quem está separada graças a uma infidelidade conjugal - e que tem com a própria filha adolescente (Abigail Breslin) uma relação conflituosa. Juliette Lewis (voltando aos holofotes depois de um sumiço injusto) interpreta Karen, a filha desajustada e volúvel que está noiva de um homem mais velho (Dermot Mulroney) - que não demora a arrastar a asa para a sobrinha da namorada, mesmo sabendo que ela tem apenas 14 anos. E Julianne Nicholson compõe uma Ivy delicada e submissa às idiossincrasias da mãe, que encontra um caminho para ser feliz no amor apenas para vê-lo desmoronar diante de seus olhos. Completando a disfuncional família estão a irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale, ótima), seu compreensivo marido (Chris Cooper) e seu filho único, Little Charles (Benedict Cumberbatch), a quem ela trata com total desprezo.
O elenco de "Álbum de família" é espetacular, sem um único elo fraco. O texto é forte e devidamente respeitado (talvez até demais). A trama tem surpresas e reviravoltas em número suficiente para prender a atenção e a bela canção de Kings of Leon que fecha o filme traduz com perfeição o clima da obra. Mas, apesar de tudo isso, como cinema é insatisfatório. É quase um teatro filmado. Quem não se importa com isso com certeza terá duas horas de grandes interpretações. Não é pouco, mas poderia ser ainda mais.