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TRAPAÇA

Posted by Clenio on 23:22 in
Em 1999 o cineasta David O. Russell realizou um dos primeiros filmes americanos a tratar sobre a guerra no Golfo, a comédia de ação "Três reis", que demonstrava um senso de humor afiado e uma criatividade que seria ainda mais perceptível na bizarra comédia "Huckabees, a vida é uma comédia", lançado cinco anos depois. Depois disso, de uma hora pra outra, o nova-iorquino de 55 anos tornou-se um queridinho absoluto da Academia. "O vencedor", de 2010, deu a Christian Bale e Melissa Leo os Oscar de coadjuvante, além de ter indicado Amy Adams na mesma categoria. "O lado bom da vida", de 1012, premiou Jennifer Lawrence como melhor atriz - e indicou também Bradley Cooper a melhor ator e Robert DeNiro e Jackie Weaver a coadjuvantes. Ambos concorreram aos Oscar de filme, direção e roteiro. Comprovando sua fase sem igual, Russell repetiu o feito este ano: "Trapaça", seu novo trabalho, concorre a dez estatuetas, incluindo as cinco principais - além de, como aconteceu ano passado, ter todos os seus quatro atores principais entre os finalistas nas categorias de interpretação. Isso tudo - mais o Golden Globe de melhor comédia/musical e o prêmio de melhor filme pela Associação de Críticos de Nova York - levanta uma importante questão: sua nova obra é assim tão boa?

Depende. Tendo "O vencedor" e "O lado bom da vida" - filmes apenas corretos exageradamente incensados - como base de comparação, "Trapaça" é um salto de qualidade na carreira de Russell, tanto em termos narrativos quanto de direção de atores. Mas, percebendo claramente que o cineasta bebe direto na fonte do cinema enérgico e marginal de Martin Scorsese, não deixa de ser estranho vê-lo disputar o Oscar com o próprio mestre - e ter muito mais chances de sair-se vitorioso do que ele. "O lobo de Wall Street", do bom e velho Marty, também está no páreo do Oscar, mas é sua versão light - estrelada por Christian Bale e Amy Adams - que parece estar na dianteira pelos prêmios.

A trama de "Trapaça" é complexa como convém a um filme que trata de golpes financeiros, mas narrada de forma convencional, sem maiores arroubos de criatividade, preocupando-se mais com as relações interpessoais de seus personagens, interpretados por atores em momentos de rara inspiração. Christian Bale está mais uma vez irreconhecível como Irving Rosenfeld, um golpista que, em 1977, é forçado a trabalhar ao lado do agente do FBI Ritchie DiMaso (Bradley Cooper) como forma de ter seus crimes perdoados. Casado com a perua Rosalyn (Jennifer Lawrence) - acostumada com os luxos que uma vida de crime proporciona - Rosenfeld conta com a ajuda de sua amante, Sydney (Amy Adams), para tentar jogar o político Carmine Polito (Jeremy Renner) atrás das grades. Logicamente nem tudo sai como o planejado, o que leva todos a situações inesperadas - e a um final inteligente o bastante para justificar os momentos menos ágeis do roteiro.

A profusão de indicações de "Trapaça" tem mais a ver com os valores de produção - por se passar no final da década de 70 os figurinos e os cenários mereceram cuidado especial - e o elenco do que exatamente por suas qualidades inovadoras. Parte de um subgênero do cinema hollywoodiano - os filmes de roubo - a obra de Russell segue sua cartilha à risca, criando personagens simpáticos em sua marginalidade e uma trama rocambolesca na medida exata para prender a atenção e não confundir o público. Se Amy Adams utiliza a sensualidade pela primeira vez em sua carreira em um interpretação impecável e Bale mais uma vez mostra que é um ator extraordinário, os coadjuvantes Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (protagonistas do filme anterior do diretor) não fazem feio, ainda que a elogiada Lawrence talvez exagere um pouco nas tintas de sua personagem - culpa dela ou da direção?

Em resumo, "Trapaça" é um bom filme, bastante superior às duas últimas obras de seu diretor, mas o excesso de indicações ao Oscar talvez represente mais um exemplo de alucinação coletiva que acomete frequentemente a Academia do que um atestado de suas qualidades.

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1 Comments


Desde que você me apontou o provável exagero, mesmo que pouco, da Jennifer Lawrence eu venho me perguntando.. se é mesmo culpa dela ou de direção.

Preciso ver algum outro filme desse diretor pra saber se a opinião que eu tenho sobre ele confere. Ai talvez eu tenha a resposta.

De mais, concordo com tudo. E acho sim um exagero, apesar do filme ser bom. Mas Hollywood é criado de estrelas, né? E eles precisam delas. Pq não fabricar e aumentar algumas? Faz sentido, não faz?

;)
zukm.t, tt
ppb
bjooooooo

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