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CLUBE DE COMPRAS DALLAS
Posted by Clenio
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17:53
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CINEMA 2014
Não é preciso ser especialista em cinema em geral - e nos meandros da Academia que oferece o Oscar em particular - para saber que um ator (ou atriz) que tem coragem de despir-se da vaidade para encarnar um papel tem enormes chances de sagrar-se vencedor de uma estatueta dourada. Exemplos não faltam, e provavelmente no dia 02 de março próximo a lista vai contar com outros dois nomes: Matthew McConaughey e Jared Leto, que vem fazendo uma limpa nas cerimônias de premiação consideradas prévias do prêmio máximo do cinema americano. Seus desempenhos são tão impactantes que, a despeito da qualidade duvidosa de "Clube de compras Dallas", levaram a obra de Jean-Marc Vallé ao Olimpo de duas das categorias mais nobres da premiação: filme e roteiro original.
Não que o filme seja exatamente ruim, mas dava para esperar muito mais da direção de Vallé, que conquistou todo mundo com o simpático e criativo "C.R.A.Z.Y", em 2005. Seu trabalho em "Clube de compras" é mecânico, quadrado e - pior dos pecados para um filme que trata de um assunto tão potencialmente dramático - indiferente. Mesmo que fique evidente a entrega de McConaughey e Leto a seus papéis é dificil envolver-se com a narrativa, porque o roteiro não permite a aproximação do público, tratando tudo com um distanciamento que, se mirou na neutralidade, acertou na frieza. Por mais que os atores - especialmente Leto, mostrando que seus bons trabalhos em filmes como "Réquiem para um sonho" e "Capítulo 27", em que interpretava o assassino de John Lennon, não eram sucessos isolados - se esforcem em cativar a audiência, a opção de Vallé em fugir do sentimentalismo contrasta com a potência emocional da história real de Ron Woodroof, um eletricista mulherengo do Texas que, contaminado com o vírus HIV em 1985 - portanto, quando a doença ainda era uma incógnita junto à medicina e era tratada como exclusividade dos homossexuais - precisa lidar com a burocracia acerca do tratamento com remédios experimentais e resolve criar um sistema para proporcionar aos doentes americanos o acesso às novas drogas, o tal Clube de Compras do título.
Preconceituoso e sem maiores preparos para lidar com sua nova realidade, Ron Woodroof é um personagem e tanto, repleto da complexidade que qualquer bom ator sonha, e Matthew McConaughey - que vem há alguns anos tentando ser levado a sério e finalmente conseguiu sua grande chance para isso - desencumbe-se do desafio com louvores, não apenas fisicamente mas também dramaticamente, apesar de ter que lutar contra um roteiro incapaz de explorar a contento todas as possibilidades de sua personalidade conflitante. Nesse ponto, Jared Leto sai-se melhor, já que Rayon, sua personagem, consegue ser um pouco (não muito) melhor desenvolvida, apesar do filme jogar fora a promissora relação entre ele - um jovem travesti que se prostitui e é contaminado pela AIDS - e seu pai - um homem rico e conservador que não aceita seu modo de vida. É de Leto a única cena capaz de ser lembrada futuramente - quando ele conversa consigo mesmo diante de um espelho - e mesmo assim a responsabilidade é muito mais sua do que da direção.
Por fim, "Clube de Compras Dallas" é um típico filme feito para ganhar Oscar. Nesse ponto, não se pode dizer que tenha sido mal-sucedido, já que as vitórias de seus atores já é quase certa. Mas, ao mesmo tempo, desperdiçou uma boa história e bons personagens em um roteiro raso e dinamicamente falho, que encontra espaço até mesmo para uma relação dispersiva entre o protagonista e a médica interpretada pela sempre fraca Jennifer Garner. Uma pena que um potencial tão grande tenha resultado em algo tão banal.
Não que o filme seja exatamente ruim, mas dava para esperar muito mais da direção de Vallé, que conquistou todo mundo com o simpático e criativo "C.R.A.Z.Y", em 2005. Seu trabalho em "Clube de compras" é mecânico, quadrado e - pior dos pecados para um filme que trata de um assunto tão potencialmente dramático - indiferente. Mesmo que fique evidente a entrega de McConaughey e Leto a seus papéis é dificil envolver-se com a narrativa, porque o roteiro não permite a aproximação do público, tratando tudo com um distanciamento que, se mirou na neutralidade, acertou na frieza. Por mais que os atores - especialmente Leto, mostrando que seus bons trabalhos em filmes como "Réquiem para um sonho" e "Capítulo 27", em que interpretava o assassino de John Lennon, não eram sucessos isolados - se esforcem em cativar a audiência, a opção de Vallé em fugir do sentimentalismo contrasta com a potência emocional da história real de Ron Woodroof, um eletricista mulherengo do Texas que, contaminado com o vírus HIV em 1985 - portanto, quando a doença ainda era uma incógnita junto à medicina e era tratada como exclusividade dos homossexuais - precisa lidar com a burocracia acerca do tratamento com remédios experimentais e resolve criar um sistema para proporcionar aos doentes americanos o acesso às novas drogas, o tal Clube de Compras do título.
Preconceituoso e sem maiores preparos para lidar com sua nova realidade, Ron Woodroof é um personagem e tanto, repleto da complexidade que qualquer bom ator sonha, e Matthew McConaughey - que vem há alguns anos tentando ser levado a sério e finalmente conseguiu sua grande chance para isso - desencumbe-se do desafio com louvores, não apenas fisicamente mas também dramaticamente, apesar de ter que lutar contra um roteiro incapaz de explorar a contento todas as possibilidades de sua personalidade conflitante. Nesse ponto, Jared Leto sai-se melhor, já que Rayon, sua personagem, consegue ser um pouco (não muito) melhor desenvolvida, apesar do filme jogar fora a promissora relação entre ele - um jovem travesti que se prostitui e é contaminado pela AIDS - e seu pai - um homem rico e conservador que não aceita seu modo de vida. É de Leto a única cena capaz de ser lembrada futuramente - quando ele conversa consigo mesmo diante de um espelho - e mesmo assim a responsabilidade é muito mais sua do que da direção.
Por fim, "Clube de Compras Dallas" é um típico filme feito para ganhar Oscar. Nesse ponto, não se pode dizer que tenha sido mal-sucedido, já que as vitórias de seus atores já é quase certa. Mas, ao mesmo tempo, desperdiçou uma boa história e bons personagens em um roteiro raso e dinamicamente falho, que encontra espaço até mesmo para uma relação dispersiva entre o protagonista e a médica interpretada pela sempre fraca Jennifer Garner. Uma pena que um potencial tão grande tenha resultado em algo tão banal.