SELMA - UMA LUTA PELA IGUALDADE
É lógico que "Selma" é infinitamente superior a aberrações demagógicas como "Sniper americano" e ao filme-fórmula "A teoria de tudo" - ambos sintomaticamente indicados na principal categoria mas também deixados de fora na briga por diretor - mas é muito provável que os fãs mais radicais do filme não percebam que, por trás de todas as emocionantes e chocantes cenas que mostram os confrontos raciais que sacudiram os EUA nos anos 60, por trás da performance discreta e convincente de David Oyelowo como Martin Luther King e por trás da força emocional da história contada, não existe um roteiro consistente a ponto de esconder o ritmo claudicante, os tempos mortos e, pior ainda, a edição pouco criativa. A cada sequência empolgante, que leva o espectador para dentro da história, como se fosse participante ativo do movimento social que está transformando um país - e por consequência, o mundo todo - existem várias outras sonolentas, que o afastam emocionalmente. Toda vez que Martin Luther King vai ao encontro do Presidente Lyndon Johnson (Tom Wilkinson) ou este debate a situação com o governador do Alabama, George Wallace (Tim Roth), o filme perde o pique. São momentos importantes para a ação, claro, mas que contrastam radicalmente com outros de grande intensidade dramática e que comprometem o ritmo do filme como um todo.
Quando DuVernay mostra ao espectador a violência a que os negros - e até mesmo os brancos que compravam sua briga - eram submetidos simplesmente porque lutavam pelo direito básico ao voto, seu filme cresce, se agiganta, emociona às lágrimas. Quando se dedica a mostrar a forma idealista de Luther King lutar contra o preconceito, sua obra se ilumina e inspira. Quando dá espaço a seus atores - em especial Oyelowo, Tim Roth e sua produtora Oprah Winfrey em pequena participação - brilharem, seu trabalho conquista. Mas ao final da sessão, quando a sensação de injustiça e revolta passam, não sobra muito mais. Falta a "Selma" aquele algo mais que faz de um bom filme um filme inesquecível. É forte, é intenso e é imprescindível historicamente. Mas não faz jus a toda a polêmica que criou em torno de suas duas indicações ao Oscar. Ser lembrado como um dos indicados a melhor filme do ano já é bom o bastante.