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SNIPER AMERICANO
Posted by Clenio
on
20:44
in
CINEMA 2015
Mais do que louvar suas qualidades cinematográficas, as seis inesperadas indicações ao Oscar de "Sniper americano", novo filme de Clint Eastwood, deixam claras três tendências bastante óbvias entre os eleitores da Academia de Hollywood. Primeira: seu conservadorismo continua em alta, assim como seu patriotismo exarcebado e sua quedinha pouco disfarçada por histórias que louvem os "heróis" norte-americanos. Segunda: não importa o filme que faça, o veterano Eastwood ainda tem prestígio de sobra junto à ala mais tradicional dos votantes - e isso que seu musical "Jersey Boys", lançado também este ano, foi severamente ignorado. E terceira mas não menos importante: sua paixão por Bradley Cooper, que, com seu jeito de galã e esforço para tornar-se um ator sério, caiu como uma luva nos planos da indústria de construir um novo astro à moda antiga - só isso explica suas três indicações consecutivas (e sem sentido) à estatueta. Ao escolher o filme de Clint - um drama de guerra sem nenhuma novidade em relação a dezenas de outras produções de temática similar que volta e meia surgem nas telas - como um dos melhores do ano em detrimento de outros trabalhos menos previsíveis e mais ousados, a Academia também deixa claro que, por trás da aparente onda de renovação com filmes como "Boyhood" e "O Grande Hotel Budapeste", ela ainda é uma organização arraigada a seus valores mais arcaicos - e o sucesso acachapante de bilheteria afirma que o público ianque também está seguindo essas tendências ao pé da letra.
Não que "Sniper americano" - um título em português no mínimo inadequado - seja um filme ruim, muito pelo contrário. Tecnicamente impecável - foi indicado ao Oscar nas duas categorias sonoras e ainda na de edição - e contando com uma atuação inspirada de Bradley Cooper (que ganhou peso para o papel, como manda a tradição do "método") no papel principal, ele é capaz de encantar aos fãs do gênero, com sequências bem orquestradas e filmadas com uma segurança que somente a experiência pode trazer. No entanto, ao lado dessa qualidade técnica caminha um roteiro pouco inspirado - quase preguiçoso - que não se decide em qual foco dar à sua narrativa. Em um momento, estamos em pleno Iraque, ao lado do protagonista Chris Kyle, lutando contra o inimigo e não se deixando comover nem mesmo com a pouca idade das possíveis ameaças. Em seguida, estamos testemunhando sua vida doméstica ao lado da esposa, Taya (Sienna Miller, irreconhecível), e tentando adaptar-se à rotina familiar - e encontrando dificuldades em deixar a guerra para trás. Porém, o que poderia ser interessante e dar-lhe uma densidade que o separasse dos outros filmes do gênero - essa quase incompetência em lidar com o dia-a-dia de um herói nacional, com fantasmas a lhe atormentar a existência - não é explorado a contento. Interessa mais a Eastwood tiroteios e uma câmera nervosa do que a complexidade psicológica do personagem. A Academia e a audiência gostaram. Mas para quem já está quase saturado de ver filmes de guerra quase idênticos talvez seja um pouco cansativo demais.
Não é provável que "Sniper americano" saia da cerimônia do próximo domingo com alguma estatueta - talvez nas categorias técnicas ele saia vencedor, mas mesmo assim injustamente. Mas só o fato de estar concorrendo ao prêmio máximo da noite já demonstra que, apesar de tentar parecer moderninha, a Academia ainda continua a mesma velhinha de 86 anos de idade que gosta sempre das mesmas histórias requentadas e inofensivas.
Não que "Sniper americano" - um título em português no mínimo inadequado - seja um filme ruim, muito pelo contrário. Tecnicamente impecável - foi indicado ao Oscar nas duas categorias sonoras e ainda na de edição - e contando com uma atuação inspirada de Bradley Cooper (que ganhou peso para o papel, como manda a tradição do "método") no papel principal, ele é capaz de encantar aos fãs do gênero, com sequências bem orquestradas e filmadas com uma segurança que somente a experiência pode trazer. No entanto, ao lado dessa qualidade técnica caminha um roteiro pouco inspirado - quase preguiçoso - que não se decide em qual foco dar à sua narrativa. Em um momento, estamos em pleno Iraque, ao lado do protagonista Chris Kyle, lutando contra o inimigo e não se deixando comover nem mesmo com a pouca idade das possíveis ameaças. Em seguida, estamos testemunhando sua vida doméstica ao lado da esposa, Taya (Sienna Miller, irreconhecível), e tentando adaptar-se à rotina familiar - e encontrando dificuldades em deixar a guerra para trás. Porém, o que poderia ser interessante e dar-lhe uma densidade que o separasse dos outros filmes do gênero - essa quase incompetência em lidar com o dia-a-dia de um herói nacional, com fantasmas a lhe atormentar a existência - não é explorado a contento. Interessa mais a Eastwood tiroteios e uma câmera nervosa do que a complexidade psicológica do personagem. A Academia e a audiência gostaram. Mas para quem já está quase saturado de ver filmes de guerra quase idênticos talvez seja um pouco cansativo demais.
Não é provável que "Sniper americano" saia da cerimônia do próximo domingo com alguma estatueta - talvez nas categorias técnicas ele saia vencedor, mas mesmo assim injustamente. Mas só o fato de estar concorrendo ao prêmio máximo da noite já demonstra que, apesar de tentar parecer moderninha, a Academia ainda continua a mesma velhinha de 86 anos de idade que gosta sempre das mesmas histórias requentadas e inofensivas.