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O GRANDE HOTEL BUDAPESTE
Posted by Clenio
on
21:54
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CINEMA 2015
Dentre os filmes pouco convencionais selecionados pela Academia de Hollywood para concorrer ao principal Oscar deste ano - "Birdman" e "Boyhood", por exemplo - nenhum é tão radicalmente a cara de seu autor quanto "O Grande Hotel Budapeste", escrito, dirigido e produzido por Wes Anderson, um dos cineastas menos afeitos a concessões comerciais que o cinema norte-americano gerou nos últimos quinze anos, desde que lançou o elogiado - e ignorado pelo público - "Três é demais", em 1998. Dono de um estilo facilmente reconhecível que equilibra com rara inteligência personagens excêntricos, histórias inusitadas e um visual milimetricamente planejado, Anderson faz parte de um time de poucos realizadores que tem uma marca própria dentro do cinema, como Tim Burton, Woody Allen e Pedro Almodovar. No entanto, ainda faltava a ele uma espécie de reconhecimento oficial por parte da indústria, que lhe desse o passaporte definitivo para a elite dos cineastas. Com as surpreendentes nove indicações conquistadas por seu novo filme, tal passaporte já está carimbado, independente de sua vitória - quase certa em algumas categorias como direção de arte e até roteiro original (já que foi o vencedor do sindicato) - ou derrota - bastante provável no páreo de melhor filme e direção. Só o fato de lutar de igual pra igual com produções bem menos criativas (e por conseguinte mais facilmente digeríveis pelos tradicionais e vestutos eleitores da Academia), "O Grande Hotel Budapeste" já pode ser considerado um campeão.
A trama - contada através de uma história dentro de uma história, em uma opção narrativa arriscada mas extremamente bem-sucedida - é aparentemente simples, mas repleta de bifurcações inusitadas e personagens surreais: quem começa a contá-la é um escritor consagrado (vivido por Tom Wilkinson na maturidade e Jude Law na juventude), que transmite ao público a história do misterioso Mr. Moustafa (F. Murray Abraham), dono do decadente Hotel Budapeste, localizado em um país fictício da Europa que teve seu auge no período entre-guerras. Solitário e discreto, Moustafa relembra, através de flashbacks, as reviravoltas que fizeram com que a imensa propriedade fosse parar em seu nome. Tais reviravoltas tem início quando ele, ainda jovem (e interpretado por Tony Revolori) consegue emprego como empregado do hotel, sob o comando do rígido e dedicado Gustave H. (Ralph Fiennes), que, além de ser o melhor concierge da região, não hesita em agradar as hóspedes de mais idade com noites regadas a champagne e sexo. Quando uma dessas visitantes frequentes, a milionária Céline Villeneuve Desgoffe und Taxis (Tilda Swinton irreconhecível sob pesada maquiagem), morre aos 84 anos em sua mansão, ele resolve prestar suas últimas homenagens, atendendo a seu funeral. Para sua surpresa, porém, ele fica sabendo - junto com a ambiciosa família da falecida - que herdou um quadro de valor milionário, o que acaba lhe colocando em sérios apuros com a polícia: recusando-se a aceitar que a mãe tenha deixado tão valioso bem para um mero serviçal, o psicótico Dimitri (Adrien Brody) o acusa de assassinato e parte em sua captura, ao lado de seu violento capanga Jopling (Willem Dafoe). Quando eclode a II Guerra, cabe a Gustave provar sua inocência - contando, para isso, com o apoio de um clube secreto de concierges espalhados pelo mundo.
Dotado de um humor sofisticado que provoca mais sorrisos do que gargalhadas e de uma trama tão cheia de informações visuais que uma segunda sessão é mandatória, "O Grande Hotel Budapeste" é, tranquilamente, o melhor filme de Wes Anderson, refinando as características narrativas de "Os excêntricos Tenenbauns" e estilísticas de "Moonrise kingdom" e unindo-as em um espetáculo de qualidade estética ímpar. Único dos candidatos ao Oscar de fotografia a ser filmado em película - um feito digno de nota, especialmente quando se percebe a qualidade irretocável do meticuloso trabalho de Robert Yeoman - a obra de Anderson também é um triunfo de desenho de produção, tão impressionante com seus cenários grandiosos quanto a segurança do cineasta em equilibrar narrativas múltiplas sem perder o fio da meada ou confundir o espectador. Contando com um elenco acima de qualquer crítica - com destaque para Ralph Fiennes em raro registro cômico e Edward Norton em sua segunda parceria com o diretor, além da revelação Tony Revolori - o filme ainda se beneficia da inspirada trilha sonora (mais uma) de Alexandre Desplat, que comenta a ação como se fosse um personagem a mais e pode dar a ele uma merecida estatueta dourada no próximo domingo. Ela é mais uma peça essencial em um dos mais empolgantes produtos cinematográficos dos últimos anos, um filme capaz de encantar qualquer fã da sétima arte e a prova cabal do talento de seu criador, até então escondido em pérolas de cinemateca - vulgo filmes amados por uma parcela de espectadores que não tem medo do diferente.
"O Grande Hotel Budapeste" surpreendeu ao tirar o Golden Globe de Melhor Comédia/Musical das mãos de "Birdman", em janeiro. Não seria injusto - ainda que seja pouco provável - se a Academia também se rendesse à sua genial excentricidade.
A trama - contada através de uma história dentro de uma história, em uma opção narrativa arriscada mas extremamente bem-sucedida - é aparentemente simples, mas repleta de bifurcações inusitadas e personagens surreais: quem começa a contá-la é um escritor consagrado (vivido por Tom Wilkinson na maturidade e Jude Law na juventude), que transmite ao público a história do misterioso Mr. Moustafa (F. Murray Abraham), dono do decadente Hotel Budapeste, localizado em um país fictício da Europa que teve seu auge no período entre-guerras. Solitário e discreto, Moustafa relembra, através de flashbacks, as reviravoltas que fizeram com que a imensa propriedade fosse parar em seu nome. Tais reviravoltas tem início quando ele, ainda jovem (e interpretado por Tony Revolori) consegue emprego como empregado do hotel, sob o comando do rígido e dedicado Gustave H. (Ralph Fiennes), que, além de ser o melhor concierge da região, não hesita em agradar as hóspedes de mais idade com noites regadas a champagne e sexo. Quando uma dessas visitantes frequentes, a milionária Céline Villeneuve Desgoffe und Taxis (Tilda Swinton irreconhecível sob pesada maquiagem), morre aos 84 anos em sua mansão, ele resolve prestar suas últimas homenagens, atendendo a seu funeral. Para sua surpresa, porém, ele fica sabendo - junto com a ambiciosa família da falecida - que herdou um quadro de valor milionário, o que acaba lhe colocando em sérios apuros com a polícia: recusando-se a aceitar que a mãe tenha deixado tão valioso bem para um mero serviçal, o psicótico Dimitri (Adrien Brody) o acusa de assassinato e parte em sua captura, ao lado de seu violento capanga Jopling (Willem Dafoe). Quando eclode a II Guerra, cabe a Gustave provar sua inocência - contando, para isso, com o apoio de um clube secreto de concierges espalhados pelo mundo.
Dotado de um humor sofisticado que provoca mais sorrisos do que gargalhadas e de uma trama tão cheia de informações visuais que uma segunda sessão é mandatória, "O Grande Hotel Budapeste" é, tranquilamente, o melhor filme de Wes Anderson, refinando as características narrativas de "Os excêntricos Tenenbauns" e estilísticas de "Moonrise kingdom" e unindo-as em um espetáculo de qualidade estética ímpar. Único dos candidatos ao Oscar de fotografia a ser filmado em película - um feito digno de nota, especialmente quando se percebe a qualidade irretocável do meticuloso trabalho de Robert Yeoman - a obra de Anderson também é um triunfo de desenho de produção, tão impressionante com seus cenários grandiosos quanto a segurança do cineasta em equilibrar narrativas múltiplas sem perder o fio da meada ou confundir o espectador. Contando com um elenco acima de qualquer crítica - com destaque para Ralph Fiennes em raro registro cômico e Edward Norton em sua segunda parceria com o diretor, além da revelação Tony Revolori - o filme ainda se beneficia da inspirada trilha sonora (mais uma) de Alexandre Desplat, que comenta a ação como se fosse um personagem a mais e pode dar a ele uma merecida estatueta dourada no próximo domingo. Ela é mais uma peça essencial em um dos mais empolgantes produtos cinematográficos dos últimos anos, um filme capaz de encantar qualquer fã da sétima arte e a prova cabal do talento de seu criador, até então escondido em pérolas de cinemateca - vulgo filmes amados por uma parcela de espectadores que não tem medo do diferente.
"O Grande Hotel Budapeste" surpreendeu ao tirar o Golden Globe de Melhor Comédia/Musical das mãos de "Birdman", em janeiro. Não seria injusto - ainda que seja pouco provável - se a Academia também se rendesse à sua genial excentricidade.