COMER, REZAR, AMAR
Julia Roberts sai de sua semi-aposentadoria para viver uma personagem feita quase sob medida: a escritora Elizabeth Gilbert, que, em meio a uma crise existencial e de um processo divórcio do marido (Billy Crudup), abandona o namorado natureba (James Franco) e resolve fazer uma viagem de "auto-cura". Seguindo os conselhos de um xamã de Bali, ela vai para a Itália fazer orgias gastronômicas, parte para a Índia em busca de paz espiritual e volta à Bali para finalmente encontrar o amor nos braços de um brasileiro (Javier Bardem). A história, aparentemente banal, é, no entanto, motivo para que tanto Roberts desfile seu carisma pela tela quanto para que Murphy faça sua estreia como cineasta de forma marcante e com o máximo de hype possível.
O livro de Gilbert não é exatamente uma pérola de literatura, apesar de ter vendido horrores pelo mundo afora desde seu lançamento (um número que não pára de crescer graças ao filme), mas conquista pela maneira bem-humorada de contar um processo de auto-descoberta feito por uma mulher repleta de defeitos e qualidades como qualquer espectadora - sim, são as mulheres que mais vão se encantar com a trajetória da protagonista, apesar dessa afirmação soar um tanto sexista. Tudo em "Comer, rezar, amar" é nitidamente direcionado ao público feminino, assim como também o é o livro que lhe deu origem. Mas, apesar da história interessante, da presença de Julia Roberts e de Javier Bardem e das belas paisagens, muita gente achou por bem falar mal do filme. Por que?
Realmente, "Comer, rezar, amar" é um filme que exige paciência do espectador: são duas horas e meia de duração, sem maiores lances dramáticos ou reviravoltas surpreendentes (e até mesmo as piadas são utilizadas com parcimônia). É um filme com ritmo próprio, que não tem pressa em contar sua história e que confia bem mais em sua estrela e em sua bela fotografia do que exatamente em construir relações sólidas entre suas personagens (o romance entre Roberts e Bardem soa um pouco artificial, talvez pelo sotaque estranho dele, talvez pela pressa com que justamente essa parte do filme tenha sido tratada). Mas o fato é que o livro já era assim, episódico, simples, quase uma união de anedotas e pequenos incidentes acontecidos com sua protagonista. Não há um empecilho para o romance central (que só começa no terço final), não há vilões, não há coadjuvantes recitando falas engraçadas a cada cinco minutos. Há, isso sim, a história de uma mulher corajosa o bastante para correr atrás do que queria fazer.
E há também Richard Jenkins. O falecido pai de família de "A sete palmos" rouba descaradamente a cena na pele de Richard, um texano com sérios problemas de culpa que ajuda Gilbert a superar seus próprios fantasmas nas cenas mais emocionantes do longa. É Jenkins que eleva "Comer, rezar, amar" a um patamar maior de qualidade, é ele quem justifica o preço do ingresso - ainda que sem ele também seria bastante divertido assistir-se ao filme - e é ele quem faz o público parar de lamentar o fato do capítulo "Itália" já ter acabado (a primeira parte da viagem da personagem principal é, sem dúvida, a mais divertida - para ela e para o público).
"Comer, rezar, amar" não é ruim como dizem. Não é espetacular, mas diverte, emociona, instiga. E tem Julia Roberts com seu belo sorriso e seu inegável carisma em todas as cenas. Pode-se dizer que isso é mais do que o bastante.
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