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OS DESCENDENTES
Posted by Clenio
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CINEMA 2012
Em 2004, o ator George Clooney já era um ator respeitado dentro da indústria cinematográfica, mas foi recusado pelo cineasta Alexander Payne para interpretar o protagonista de seu filme "Sideways - Entre Umas e Outras" justamente por já ser conhecido demais do grande público. O papel acabou indo parar nas mãos mais apropriadas de Paul Giamatti, o perdedor-mor de Hollywood. Sete anos depois, Clooney acabou sendo escolhido por Payne para protagonizar seu novo longa, a comédia dramática (ou drama com toques cômicos) "Os Descendentes", baseado em um romance de Kaui Hart Hemmings. Por suprema ironia do destino, enquanto Giamatti foi esnobado pela Academia a despeito dos elogios unânimes à sua atuação, Clooney não apenas recebeu uma nova indicação ao Oscar como é o favorito para levar a estatueta pra casa no próximo dia 26 de fevereiro.
Fiel a seu estilo de contar histórias simples sobre gente comum - e encontrar dentro delas elementos dramáticos suficientes para sustentar um roteiro interessante - Payne desta vez centra seu foco em Matt King (George Clooney), um banqueiro americano que vive no Havaí com a esposa e as duas filhas e vê sua vida transformada por duas situações distintas: na primeira, ele precisa, como responsável pelo espólio da família, decidir a venda das terras que são de sua propriedade há centenas de anos. Na segunda, precisa lidar com o coma irreversível da esposa depois de um acidente de barco - e a revelação de que ela o traía com outro homem. Desnorteado com a notícia, ele parte em busca do amante da esposa, acompanhado das duas filhas e do amigo de uma delas.
Certamente a maior qualidade de "Os descendentes" é a direção segura e sutil de Alexander Payne, que parece ter encontrado o equilíbrio perfeito entre o drama e o humor, sem pesar a mão nos momentos de maior emoção nem tampouco exagerar na ironia que sempre perpassa sua obra. Seu discreto trabalho permite ao elenco - no qual se destaca a ótima Shailenne Woodley, injustamente esquecida pelo Oscar apesar da indicação ao Golden Globe - um tom naturalista que aproxima as personagens da plateia e faz com que todas as situações do enredo, por mais surreais que possam parecer, soem extremamente verossímeis. O roteiro, fluente e agradável, remete aos melhores momentos de sua carreira - a ironia sardônica de "Eleição" e "Ruth em questão" e o tom melancólico de "As confissões de Schmidt" - e a trilha sonora adequada (composta por uma música típica havaiana) surge nos momentos certos, nunca atrapalhando a narrativa ou buscando chamar mais a atenção do que a trama.
Mas, mais do que a direção suave de Payne e que o roteiro equilibrado, o que mais chama a atenção em "Os descendentes" é, sem dúvida, a atuação impecável de George Clooney. Demonstrando uma maturidade e uma segurança ímpares, o ator (que ficou injustamente de fora do Oscar também como diretor pelo espetacular "Tudo pelo poder") transforma seu trabalho como Matt King na melhor interpretação de sua carreira até agora, transmitindo uma vastidão de sentimentos que nenhuma atuação anterior lhe permitiu. Tudo que King sente - a perplexidade de saber-se traído, a dor de perder a mulher que ama, as dúvidas em relação aos negócios familiares, o medo de não saber como cuidar das filhas - Clooney transparece no olhar, no gestual, nas entonações nunca fora de tom. Em especial a cena em que se despede da esposa é capaz de emocionar sem apelar para o piegas, e suas sequências com Shailene Woodley demonstram também uma generosidade cada vez mais rara no cinema americano.
"Os descendentes" é um ótimo pequeno filme. Pequeno porque não chama a atenção com efeitos visuais ou campanhas agressivas de marketing, preferindo conquistar pela simplicidade. Ótimo porque filmes assim não acontecem a toda hora. Se merece o Oscar principal? Se o colocarmos lado a lado com "O artista" e "Meia-noite em Paris" talvez não. Mas é muito, muito superior a "Histórias cruzadas" e "Moneyball - O homem Que mudou o jogo". Que a Academia decida com sabedoria!
Fiel a seu estilo de contar histórias simples sobre gente comum - e encontrar dentro delas elementos dramáticos suficientes para sustentar um roteiro interessante - Payne desta vez centra seu foco em Matt King (George Clooney), um banqueiro americano que vive no Havaí com a esposa e as duas filhas e vê sua vida transformada por duas situações distintas: na primeira, ele precisa, como responsável pelo espólio da família, decidir a venda das terras que são de sua propriedade há centenas de anos. Na segunda, precisa lidar com o coma irreversível da esposa depois de um acidente de barco - e a revelação de que ela o traía com outro homem. Desnorteado com a notícia, ele parte em busca do amante da esposa, acompanhado das duas filhas e do amigo de uma delas.
Certamente a maior qualidade de "Os descendentes" é a direção segura e sutil de Alexander Payne, que parece ter encontrado o equilíbrio perfeito entre o drama e o humor, sem pesar a mão nos momentos de maior emoção nem tampouco exagerar na ironia que sempre perpassa sua obra. Seu discreto trabalho permite ao elenco - no qual se destaca a ótima Shailenne Woodley, injustamente esquecida pelo Oscar apesar da indicação ao Golden Globe - um tom naturalista que aproxima as personagens da plateia e faz com que todas as situações do enredo, por mais surreais que possam parecer, soem extremamente verossímeis. O roteiro, fluente e agradável, remete aos melhores momentos de sua carreira - a ironia sardônica de "Eleição" e "Ruth em questão" e o tom melancólico de "As confissões de Schmidt" - e a trilha sonora adequada (composta por uma música típica havaiana) surge nos momentos certos, nunca atrapalhando a narrativa ou buscando chamar mais a atenção do que a trama.
Mas, mais do que a direção suave de Payne e que o roteiro equilibrado, o que mais chama a atenção em "Os descendentes" é, sem dúvida, a atuação impecável de George Clooney. Demonstrando uma maturidade e uma segurança ímpares, o ator (que ficou injustamente de fora do Oscar também como diretor pelo espetacular "Tudo pelo poder") transforma seu trabalho como Matt King na melhor interpretação de sua carreira até agora, transmitindo uma vastidão de sentimentos que nenhuma atuação anterior lhe permitiu. Tudo que King sente - a perplexidade de saber-se traído, a dor de perder a mulher que ama, as dúvidas em relação aos negócios familiares, o medo de não saber como cuidar das filhas - Clooney transparece no olhar, no gestual, nas entonações nunca fora de tom. Em especial a cena em que se despede da esposa é capaz de emocionar sem apelar para o piegas, e suas sequências com Shailene Woodley demonstram também uma generosidade cada vez mais rara no cinema americano.
"Os descendentes" é um ótimo pequeno filme. Pequeno porque não chama a atenção com efeitos visuais ou campanhas agressivas de marketing, preferindo conquistar pela simplicidade. Ótimo porque filmes assim não acontecem a toda hora. Se merece o Oscar principal? Se o colocarmos lado a lado com "O artista" e "Meia-noite em Paris" talvez não. Mas é muito, muito superior a "Histórias cruzadas" e "Moneyball - O homem Que mudou o jogo". Que a Academia decida com sabedoria!