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TUDO PELO PODER
Posted by Clenio
on
09:53
in
CINEMA 2012
Quando o seriado "Plantão Médico" estreou, em 1993 - anos antes, portanto, que séries de TV tivessem o status que tem hoje - pouca gente
poderia imaginar que um de seus protagonistas, o até então desconhecido George Clooney chegaria, em pouco mais de quinze anos, a ser um dos
atores mais respeitados da vaidosa e inconstante Hollywood (e melhor ainda, seria também elogiado por seus trabalhos atrás das câmeras). No entanto, hoje em dia o sedutor Doutor Doug Ross é apenas história. Clooney, aos 50 anos, tem um Oscar de coadjuvante em casa (por "Syriana") e um prestígio acima de qualquer suspeita. Dividindo sua carreira entre produções feitas com o objetivo claro de entreter (como "Onze homens e um segredo") e algumas extremamente relevantes em termos sociais e políticos (como seu excelente "Boa noite, e boa sorte"), Clooney chega a 2012 com fortes possibilidades de amealhar mais uma estatueta dourada. Se não for como ator por sua elogiada atuação em "Os descendentes" pode muito bem ser como diretor pelo admirável "Tudo pelo poder", em que ele reitera sua posição de um artista politicamente responsável e engajado.
Baseado em uma peça teatral de Beau Willimon (que colaborou no roteiro final), "Tudo pelo poder" mostra mais uma vez o talento de Clooney em não se deixar levar pela vaidade (defeito que muito atrapalha as carreiras de atores tornado diretores) ou pela grandiloquência (o custo total do filme não chegou a 15 milhões de dólares, salário habitual de gente como Julia Roberts e Tom Cruise). Assim como seu sensacional "Boa noite e boa sorte" (que lhe deu a primeira indicação ao Oscar de direção), "Tudo pelo poder" é discreto em seu formato e potente em seu resultado. Ao tratar de um assunto universal (política) sob o ponto vista pessoal (no caso, da personagem central vivida por Ryan Gosling), o ator/diretor/roteirista/produtor (ufa!) expande o alcance de sua história, atingindo o público pela inteligência e pela ironia sutil que apresenta.
Clooney reservou para si o papel de Mike Morris, governador democrata que tenta ser eleito pelo partido para concorrer à Presidência da República, mas o real protagonista de "Tudo pelo poder" é o jovem Stephen Meyers (em mais uma atuação excitante de Ryan Gosling), um dos assessores de sua campanha. Talentoso e idealista, Stephen trabalha sob os auspícios do veterano Paul Zara (Philip Seymour Hoffman) e dedica sua vida quase integralmente à campanha de Morris, um político carismático e (ao menos aparentemente) honesto e transparente. Porém, a vida profissional de Stephen sofre uma reviravolta quando Tom Duffy (Paul Giamatti) o assessor do candidato rival de Morris o procura, oferecendo um emprego. Eticamente desafiado, o rapaz vê na sua iniciante relação com a estagiária Molly (Evan Rachel Wood) uma válvula de escape para sua tensão, mas as coisas saem do controle quando revelações inesperadas o fazem começar a duvidar da carreira que escolheu.
A estrutura dramática de "Tudo pelo poder" encontra na direção contida e elegante de Clooney o parceiro ideal. Confiante no texto e na história contada por Willimon, o cineasta mostra um inegável amadurecimento ao evitar conclusões fáceis e enquadramentos óbvios. É acertada sua opção pela narrativa clássica e pela edição direta e sem firulas, assim como é louvável a fotografia eficaz que dá o tom exato às intrigas palacianas que circundam o poder. O jogo de sombras que se avolumam conforme a trama vai ficando mais e mais sufocante para Stephen é genial e dá consistência visual ao show de interpretação do elenco selecionado por George. Mas se os atores que dão voz a mais esta história sobre a perda da inocência são nada menos que brilhantes, é preciso ressaltar a atuação esplêndida de Ryan Gosling, que consegue transmitir toda a gama necessária de nuances a sua personagem, cujo arco dramático coerente e verossímil dá sustentação ao roteiro impecável.
Forte candidado ao Oscar de 2012 (pelo menos é o que se espera, a julgar pelos indicados ao Golden Globe), "Tudo pelo poder" é a prova definitiva do talento de George Clooney por trás das câmeras e um dos mais eficientes dramas políticos do nosso tempo.
poderia imaginar que um de seus protagonistas, o até então desconhecido George Clooney chegaria, em pouco mais de quinze anos, a ser um dos
atores mais respeitados da vaidosa e inconstante Hollywood (e melhor ainda, seria também elogiado por seus trabalhos atrás das câmeras). No entanto, hoje em dia o sedutor Doutor Doug Ross é apenas história. Clooney, aos 50 anos, tem um Oscar de coadjuvante em casa (por "Syriana") e um prestígio acima de qualquer suspeita. Dividindo sua carreira entre produções feitas com o objetivo claro de entreter (como "Onze homens e um segredo") e algumas extremamente relevantes em termos sociais e políticos (como seu excelente "Boa noite, e boa sorte"), Clooney chega a 2012 com fortes possibilidades de amealhar mais uma estatueta dourada. Se não for como ator por sua elogiada atuação em "Os descendentes" pode muito bem ser como diretor pelo admirável "Tudo pelo poder", em que ele reitera sua posição de um artista politicamente responsável e engajado.
Baseado em uma peça teatral de Beau Willimon (que colaborou no roteiro final), "Tudo pelo poder" mostra mais uma vez o talento de Clooney em não se deixar levar pela vaidade (defeito que muito atrapalha as carreiras de atores tornado diretores) ou pela grandiloquência (o custo total do filme não chegou a 15 milhões de dólares, salário habitual de gente como Julia Roberts e Tom Cruise). Assim como seu sensacional "Boa noite e boa sorte" (que lhe deu a primeira indicação ao Oscar de direção), "Tudo pelo poder" é discreto em seu formato e potente em seu resultado. Ao tratar de um assunto universal (política) sob o ponto vista pessoal (no caso, da personagem central vivida por Ryan Gosling), o ator/diretor/roteirista/produtor (ufa!) expande o alcance de sua história, atingindo o público pela inteligência e pela ironia sutil que apresenta.
Clooney reservou para si o papel de Mike Morris, governador democrata que tenta ser eleito pelo partido para concorrer à Presidência da República, mas o real protagonista de "Tudo pelo poder" é o jovem Stephen Meyers (em mais uma atuação excitante de Ryan Gosling), um dos assessores de sua campanha. Talentoso e idealista, Stephen trabalha sob os auspícios do veterano Paul Zara (Philip Seymour Hoffman) e dedica sua vida quase integralmente à campanha de Morris, um político carismático e (ao menos aparentemente) honesto e transparente. Porém, a vida profissional de Stephen sofre uma reviravolta quando Tom Duffy (Paul Giamatti) o assessor do candidato rival de Morris o procura, oferecendo um emprego. Eticamente desafiado, o rapaz vê na sua iniciante relação com a estagiária Molly (Evan Rachel Wood) uma válvula de escape para sua tensão, mas as coisas saem do controle quando revelações inesperadas o fazem começar a duvidar da carreira que escolheu.
A estrutura dramática de "Tudo pelo poder" encontra na direção contida e elegante de Clooney o parceiro ideal. Confiante no texto e na história contada por Willimon, o cineasta mostra um inegável amadurecimento ao evitar conclusões fáceis e enquadramentos óbvios. É acertada sua opção pela narrativa clássica e pela edição direta e sem firulas, assim como é louvável a fotografia eficaz que dá o tom exato às intrigas palacianas que circundam o poder. O jogo de sombras que se avolumam conforme a trama vai ficando mais e mais sufocante para Stephen é genial e dá consistência visual ao show de interpretação do elenco selecionado por George. Mas se os atores que dão voz a mais esta história sobre a perda da inocência são nada menos que brilhantes, é preciso ressaltar a atuação esplêndida de Ryan Gosling, que consegue transmitir toda a gama necessária de nuances a sua personagem, cujo arco dramático coerente e verossímil dá sustentação ao roteiro impecável.
Forte candidado ao Oscar de 2012 (pelo menos é o que se espera, a julgar pelos indicados ao Golden Globe), "Tudo pelo poder" é a prova definitiva do talento de George Clooney por trás das câmeras e um dos mais eficientes dramas políticos do nosso tempo.