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PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN
Posted by Clenio
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13:47
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CINEMA 2012
O livro é excepcional. Em 464 páginas, a escritora norte-americana Lionel Shriver relata com uma prosa dolorida e fascinante a história de uma mulher que é obrigada a lidar com a tragédia provocada pelo filho adolescente. Narrado em primeira pessoa em formas de cartas endereçadas ao pai do menino, "Precisamos falar sobre o Kevin" tornou-se um dos raros bestsellers de qualidade dos últimos anos e, logicamente, chega aos cinemas cercado de expectativas. Infelizmente, ao fugir da narrativa linear do livro de Shriver, a diretora estreante Lynne Ramsay dilui a tensão da história (que surgia da angústia crescente da personagem central) em uma montagem desnecessariamente complexa. Porém, amparado basicamente na atuação esplêndida de Tilda Swinton (que também faz as vezes de produtora executiva), a versão cinematográfica de "Kevin" não envergonha sua origem literária.
O livro (publicado no Brasil pela Editora Intrínseca em 2007, e que deverá incrementar as vendas com o lançamento do filme) já deixa claro em suas primeiras páginas os motivos que levaram sua protagonista, Eva Khatchadourian a tornar-se uma espécie de pária: seu filho de 16 anos, Kevin, cometeu uma chacina em sua escola, matando colegas e funcionários. Isolada, deprimida e solitária, ela inicia uma correspondência unilateral com o marido, Franklin (John C. Reilly), tentando, de alguma forma, explicar e entender a personalidade do rapaz e sua doentia relação com ele desde o útero. Enquanto nas páginas escritas por Shriver o leitor tem a possibilidade de explorar todas as nuances psicológicas que envolvem o relacionamento entre mãe e filho (desde a rejeição da gravidez até os embates pouco sutis durante seu crescimento), no roteiro co-escrito pela diretora e por Rory Kinnear o foco da trama está nitidamente deslocado. Mesmo que as disputas entre Eva e Kevin ainda se mantenham faiscantes na tela (cortesia do excelente elenco infantil e do jovem Ezra Miller), a edição picotada que vai-e-vem no tempo prejudica o envolvimento da plateia no drama da protagonista. É difícil, por exemplo, acreditar no casamento de Eva e Franklin, porque John C. Reilly é extremamente subaproveitado, nada mais sendo do que um quase figurante de luxo (e o final de sua personagem, ao contrário do potente clímax do livro, passa praticamente em branco).
Não deixa de ser admirável a opção de Ramsay em fugir do caminho mais fácil de explorar os temas polêmicos levantados pelo livro, tratandos-o de forma quase lírica em alguns momentos. Mas, ao mesmo tempo, essa escolha ousada enfraquece a força da narrativa (o massacre em si é tratado de forma tão sutil que um espectador menos atento é capaz de compreender apenas vagamente) e dilui o principal ponto de interesse da história (a relação entre mãe e filho). Tilda Swinton está mais uma vez brilhante em sua atuação, o que a premiação pelo National Board of Review e as indicações ao Golden Globe e ao SAG Awards confirmam (é quase certo que a Academia também lembrará de seu nome no próximo dia 26, quando forem revelados os nomes dos candidatos ao Oscar). Mas, apesar de suas qualidades, "Precisamos falar sobre o Kevin" é bem capaz de frustrar os fãs do romance.
O livro (publicado no Brasil pela Editora Intrínseca em 2007, e que deverá incrementar as vendas com o lançamento do filme) já deixa claro em suas primeiras páginas os motivos que levaram sua protagonista, Eva Khatchadourian a tornar-se uma espécie de pária: seu filho de 16 anos, Kevin, cometeu uma chacina em sua escola, matando colegas e funcionários. Isolada, deprimida e solitária, ela inicia uma correspondência unilateral com o marido, Franklin (John C. Reilly), tentando, de alguma forma, explicar e entender a personalidade do rapaz e sua doentia relação com ele desde o útero. Enquanto nas páginas escritas por Shriver o leitor tem a possibilidade de explorar todas as nuances psicológicas que envolvem o relacionamento entre mãe e filho (desde a rejeição da gravidez até os embates pouco sutis durante seu crescimento), no roteiro co-escrito pela diretora e por Rory Kinnear o foco da trama está nitidamente deslocado. Mesmo que as disputas entre Eva e Kevin ainda se mantenham faiscantes na tela (cortesia do excelente elenco infantil e do jovem Ezra Miller), a edição picotada que vai-e-vem no tempo prejudica o envolvimento da plateia no drama da protagonista. É difícil, por exemplo, acreditar no casamento de Eva e Franklin, porque John C. Reilly é extremamente subaproveitado, nada mais sendo do que um quase figurante de luxo (e o final de sua personagem, ao contrário do potente clímax do livro, passa praticamente em branco).
Não deixa de ser admirável a opção de Ramsay em fugir do caminho mais fácil de explorar os temas polêmicos levantados pelo livro, tratandos-o de forma quase lírica em alguns momentos. Mas, ao mesmo tempo, essa escolha ousada enfraquece a força da narrativa (o massacre em si é tratado de forma tão sutil que um espectador menos atento é capaz de compreender apenas vagamente) e dilui o principal ponto de interesse da história (a relação entre mãe e filho). Tilda Swinton está mais uma vez brilhante em sua atuação, o que a premiação pelo National Board of Review e as indicações ao Golden Globe e ao SAG Awards confirmam (é quase certo que a Academia também lembrará de seu nome no próximo dia 26, quando forem revelados os nomes dos candidatos ao Oscar). Mas, apesar de suas qualidades, "Precisamos falar sobre o Kevin" é bem capaz de frustrar os fãs do romance.