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EU, MAMÃE E OS MENINOS
Posted by Clenio
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23:45
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CINEMA 2014
A busca pela identidade sexual na infância ainda é um assunto relativamente pouco explorado pelo cinema - apesar de títulos interessantes como o belga "Minha vida em cor-de-rosa" e o recente "Tomboy" - talvez por ser um tema delicado e um tanto polêmico. Por isso não deixa de ser louvável que um filme como "Eu, mamãe e os meninos" tenha saído da última edição do César - o Oscar francês - com cinco estatuetas, incluindo os cobiçados prêmios de melhor roteiro adaptado, ator e filme. Adaptado por Guillaume Galliene de sua própria peça teatral - por sua vez inspirada na excêntrica relação que tinha com a mãe - a comédia dramática pode até lembrar o nacional "Minha mãe é uma peça", mas tem ambições muito maiores do que o filme estrelado por Paulo Gustavo. Enquanto o brasileiro campeão de bilheteria tinha como objetivo básico arrancar gargalhadas da audiência, Galliene (egresso da afamada Comèdie Française) mira mais alto: ao analisar as dúvidas sexuais de seu protagonista, ele faz rir sem jamais deixar de criticar, nas entrelinhas, a necessidade quase patológica do ser humano em impor rótulos e limitações. Se por um lado atinge seu objetivo - com um final que tanto pode surpreender quanto decepcionar - por outro tropeça, em alguns momentos, em um humor um tanto questionável.
Utilizando-se de uma estrutura pouco usual - que mistura organicamente a linguagem teatral com a cinematográfica sem maior prejuízo de nenhuma delas - "Eu, mamãe e os meninos" acompanha a trajetória do próprio Guillaume, que desde a infãncia sentia-se diferente dos dois irmãos: pouco afeito a esportes e ligado às raias da obsessão à sua mãe, o garoto passava os dias trancado em seu quarto, vestindo-se da imperatriz austríaca Sissi e tentando imitar os trejeitos da mãe e das tias. Seus modos - que logicamente não agradam ao pai e despertam o riso do resto da família - acabam o levando a experiências das mais variadas, sempre na tentativa de dar nome à sua diferença. Tais experiências - tão díspares como um colégio interno, terapeutas e uma boate gay - acabam servindo para que Guillaume perceba que encontrar a si mesmo independe dos outros e que somente ele pode descobrir quem ele realmente é.
A maior das qualidades de "Eu, mamãe e os meninos" - à parte a coragem do diretor/roteirista/ator em fugir dos padrões convencionais de contar uma história que poderia facilmente tornar-se mais uma comédia francesa com destino a cult - é a interpretação do próprio Guillaume Galliene, merecidamente premiado por sua atuação. Vivendo ele mesmo em diversas fases de sua vida - desde a infância até a fase adulta - e interpretando também sua mãe (mais uma semelhança com o trabalho de Paulo Gustavo), ele conduz o público a uma viagem frequentemente constrangedora (no bom sentido) pelas dúvidas de uma criança/adolescente que, consciente de suas diferenças, procura encaixar-se em um mundo normalmente avesso a elas. Tendo coragem em finalizar sua odisseia de forma inesperada - que é um tapa na cara dos adeptos do sectarismo mas de certa forma nega quase tudo que foi mostrado antes - Galliene oferece ao espectador momentos de um humor sutil, capaz de agradar mesmo aos mais exigentes. E só o fato de despertar discussões com seu desfecho já é digno de nota.
Utilizando-se de uma estrutura pouco usual - que mistura organicamente a linguagem teatral com a cinematográfica sem maior prejuízo de nenhuma delas - "Eu, mamãe e os meninos" acompanha a trajetória do próprio Guillaume, que desde a infãncia sentia-se diferente dos dois irmãos: pouco afeito a esportes e ligado às raias da obsessão à sua mãe, o garoto passava os dias trancado em seu quarto, vestindo-se da imperatriz austríaca Sissi e tentando imitar os trejeitos da mãe e das tias. Seus modos - que logicamente não agradam ao pai e despertam o riso do resto da família - acabam o levando a experiências das mais variadas, sempre na tentativa de dar nome à sua diferença. Tais experiências - tão díspares como um colégio interno, terapeutas e uma boate gay - acabam servindo para que Guillaume perceba que encontrar a si mesmo independe dos outros e que somente ele pode descobrir quem ele realmente é.
A maior das qualidades de "Eu, mamãe e os meninos" - à parte a coragem do diretor/roteirista/ator em fugir dos padrões convencionais de contar uma história que poderia facilmente tornar-se mais uma comédia francesa com destino a cult - é a interpretação do próprio Guillaume Galliene, merecidamente premiado por sua atuação. Vivendo ele mesmo em diversas fases de sua vida - desde a infância até a fase adulta - e interpretando também sua mãe (mais uma semelhança com o trabalho de Paulo Gustavo), ele conduz o público a uma viagem frequentemente constrangedora (no bom sentido) pelas dúvidas de uma criança/adolescente que, consciente de suas diferenças, procura encaixar-se em um mundo normalmente avesso a elas. Tendo coragem em finalizar sua odisseia de forma inesperada - que é um tapa na cara dos adeptos do sectarismo mas de certa forma nega quase tudo que foi mostrado antes - Galliene oferece ao espectador momentos de um humor sutil, capaz de agradar mesmo aos mais exigentes. E só o fato de despertar discussões com seu desfecho já é digno de nota.