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OSCAR 2016 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Posted by Clenio
on
22:26
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CINEMA 2016
E então, como não poderia deixar de ser, a 88ª cerimônia de entrega do Oscar não primou pela imprevisibilidade. Como qualquer um poderia imaginar, o alucinante "Mad Max: estrada da fúria" saiu da festa abarrotado de estatuetas (seis ao todo, fazendo um arrastão na área técnica), Leonardo DiCaprio finalmente quebrou sua maldição pessoal e foi eleito o melhor ator, Brie Larson e Alicia Vikander também confirmaram as expectativas e Alejandro G. Iñárritu tornou-se apenas o terceiro cineasta a levar 2 Oscar consecutivos na história da Academia - para informação, os anteriores foram John Ford (por "As vinhas da ira" e "Como era verde meu vale", em 40/41) e Joseph L. Mankiewicz (por "Quem é o infiel?" e "A malvada", em 49/50). Além disso, vale lembrar que é a terceira vez na sequência que um mexicano leva o prêmio da categoria, já que Alfonso Cuarón garantiu o seu na festa de 2014, com "Gravidade" - e por falar em tricampeonato é admirável o feito do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, o primeiro da história a conquistar tal distinção (Donald Trump deve ter arrancado a peruca...).
Em uma cerimônia marcada pela polêmica da exclusão de atores negros entre os candidatos - tema que foi explorado em diversos trechos do discurso do apresentador Chris Rock e em alguns segmentos com níveis variados de erros e acertos (mostrar através de entrevistas com espectadores negros que a distância entre o discurso e a realidade sobre a igualdade racial nas telas e nas bilheterias ainda é imensa foi muito inteligente) - não houve grandes momentos, o que torna ainda mais intensa a apresentação de Lady Gaga (que cantou sua "Till it happens to you" e levou ao palco várias vítimas de estupro, tema do documentário "The hitting ground"). Aliás, é o segundo ano em que Gaga se destaca na festa, e o fato de ter perdido o Oscar para o chatíssimo tema de "007 contra Spectre" ainda deu vazão a um discurso equivocado do vencedor Sam Smith - que, coitado, se achava o primeiro gay a ganhar um Oscar e se viu soterrado de manifestações contrárias às suas pretensões, inclusive do roteirista Dustin Lance Black (de "Milk, a voz da igualdade").
O documentário "Amy", sobre a cantora Amy Winehouse, foi outro vencedor bastante popular, assim como a animação "Divertida Mente" - que ganhou do brasileiro "O menino e o mundo" - e o mais do que merecido prêmio para o veterano Ennio Morricone, finalmente ganhando, aos 87 anos, sua primeira estatueta, pelo violentíssimo "Os oito odiados", de Quentin Tarantino, um dos filmes subestimados do ano, assim como o belo "Carol" - que não converteu nenhuma de suas seis indicações, ainda que a atuação de Cate Blanchett ponha a da vitoriosa Brie Larson no bolso sem fazer muito esforço. É de se pensar se Larson vai conseguir escapar da maldição do Oscar que já vitimou Hale Berry e Hilary Swank - a julgar por seu próximo trabalho, "Kong: Skull Island", é pouco provável.
Já Leonardo DiCaprio não precisa provar nada pra ninguém há muito tempo, e seu Oscar apenas confirma um talento que ele demonstra desde a adolescência e uma coragem em encarar projetos desafiadores. Seu desempenho em "O regresso" é digno da estatueta, sim, ao contrário dos que dizem o contrário, e foi um dos acertos dos eleitores em um ano cujas injustiças já começaram na hora da divulgação dos indicados - cadê Idris Elba por "Beasts of no nation"? Cadê Todd Haynes como diretor e "Carol" como melhor filme? Cadê Charlize Theron por "Mad Max"? Por que Jennifer Lawrence de novo, e por um filme terrível como "Joy"?. Outro acerto em cheio foi a escolha de Mark Rylance como ator coadjuvante: todos esperavam que Sylvester Stallone sairia com um Oscar nas mãos (mais por sua história do que por seu talento como intérprete, sejamos honestos), mas na última hora prevaleceu o bom senso e o grande Rylance, um dos maiores destaques do excelente "Ponte dos espiões", de Steven Spielberg, lhe passou a perna e fez a alegria dos fãs de cinema de qualidade.
Quanto à vitória (quase) inesperada de "Spotlight, segredos revelados" na categoria principal, vale lembrar que "Crash, no limite" fez quase o mesmo na festa de 2006, roubando de "O segredo de Brokeback Mountain" a estatueta principal mesmo o filme de Ang Lee sendo o favorito (e superior) e tendo já levado os prêmios de roteiro adaptado e diretor. A obra de Tom McCarthy já havia sido premiada por várias associações de críticos e era considerada uma das maiores ameaças a "O regresso", assim como "Mad Max" e "A grande aposta", portanto não chegou a ser uma zebra total e absoluta - ganhou também a láurea de roteiro original e, mesmo sendo apenas o segundo filme da história a ser o grande vencedor mesmo com apenas dois carecas dourados no currículo (o outro é "O maior espetáculo da Terra", de 1956, que ficou com os mesmos dois prêmios), foi um gol de placa da Academia: é um filme forte, elegante, adulto e relevante, além de bem escrito, bem dirigido e com um elenco impecável.
Ainda é cedo para sabermos o que virá para o próximo Oscar - será que a Academia vai tentar reverter a polêmica desse ano? Será que vai abrir a festa para mais blockbusters? Será que John Williams vai arrebatar uma 51ª indicação? Será que Meryl Streep voltará à lista dos candidatos? - mas é certo que daqui a um ano os fãs de cinema estarão de novo discutindo, elocubrando, resmungando e comemorando as vitórias de seus preferidos. É um ritual tão querido quanto desprezado, mas que jamais passa despercebido.
Em uma cerimônia marcada pela polêmica da exclusão de atores negros entre os candidatos - tema que foi explorado em diversos trechos do discurso do apresentador Chris Rock e em alguns segmentos com níveis variados de erros e acertos (mostrar através de entrevistas com espectadores negros que a distância entre o discurso e a realidade sobre a igualdade racial nas telas e nas bilheterias ainda é imensa foi muito inteligente) - não houve grandes momentos, o que torna ainda mais intensa a apresentação de Lady Gaga (que cantou sua "Till it happens to you" e levou ao palco várias vítimas de estupro, tema do documentário "The hitting ground"). Aliás, é o segundo ano em que Gaga se destaca na festa, e o fato de ter perdido o Oscar para o chatíssimo tema de "007 contra Spectre" ainda deu vazão a um discurso equivocado do vencedor Sam Smith - que, coitado, se achava o primeiro gay a ganhar um Oscar e se viu soterrado de manifestações contrárias às suas pretensões, inclusive do roteirista Dustin Lance Black (de "Milk, a voz da igualdade").
O documentário "Amy", sobre a cantora Amy Winehouse, foi outro vencedor bastante popular, assim como a animação "Divertida Mente" - que ganhou do brasileiro "O menino e o mundo" - e o mais do que merecido prêmio para o veterano Ennio Morricone, finalmente ganhando, aos 87 anos, sua primeira estatueta, pelo violentíssimo "Os oito odiados", de Quentin Tarantino, um dos filmes subestimados do ano, assim como o belo "Carol" - que não converteu nenhuma de suas seis indicações, ainda que a atuação de Cate Blanchett ponha a da vitoriosa Brie Larson no bolso sem fazer muito esforço. É de se pensar se Larson vai conseguir escapar da maldição do Oscar que já vitimou Hale Berry e Hilary Swank - a julgar por seu próximo trabalho, "Kong: Skull Island", é pouco provável.
Já Leonardo DiCaprio não precisa provar nada pra ninguém há muito tempo, e seu Oscar apenas confirma um talento que ele demonstra desde a adolescência e uma coragem em encarar projetos desafiadores. Seu desempenho em "O regresso" é digno da estatueta, sim, ao contrário dos que dizem o contrário, e foi um dos acertos dos eleitores em um ano cujas injustiças já começaram na hora da divulgação dos indicados - cadê Idris Elba por "Beasts of no nation"? Cadê Todd Haynes como diretor e "Carol" como melhor filme? Cadê Charlize Theron por "Mad Max"? Por que Jennifer Lawrence de novo, e por um filme terrível como "Joy"?. Outro acerto em cheio foi a escolha de Mark Rylance como ator coadjuvante: todos esperavam que Sylvester Stallone sairia com um Oscar nas mãos (mais por sua história do que por seu talento como intérprete, sejamos honestos), mas na última hora prevaleceu o bom senso e o grande Rylance, um dos maiores destaques do excelente "Ponte dos espiões", de Steven Spielberg, lhe passou a perna e fez a alegria dos fãs de cinema de qualidade.
Quanto à vitória (quase) inesperada de "Spotlight, segredos revelados" na categoria principal, vale lembrar que "Crash, no limite" fez quase o mesmo na festa de 2006, roubando de "O segredo de Brokeback Mountain" a estatueta principal mesmo o filme de Ang Lee sendo o favorito (e superior) e tendo já levado os prêmios de roteiro adaptado e diretor. A obra de Tom McCarthy já havia sido premiada por várias associações de críticos e era considerada uma das maiores ameaças a "O regresso", assim como "Mad Max" e "A grande aposta", portanto não chegou a ser uma zebra total e absoluta - ganhou também a láurea de roteiro original e, mesmo sendo apenas o segundo filme da história a ser o grande vencedor mesmo com apenas dois carecas dourados no currículo (o outro é "O maior espetáculo da Terra", de 1956, que ficou com os mesmos dois prêmios), foi um gol de placa da Academia: é um filme forte, elegante, adulto e relevante, além de bem escrito, bem dirigido e com um elenco impecável.
Ainda é cedo para sabermos o que virá para o próximo Oscar - será que a Academia vai tentar reverter a polêmica desse ano? Será que vai abrir a festa para mais blockbusters? Será que John Williams vai arrebatar uma 51ª indicação? Será que Meryl Streep voltará à lista dos candidatos? - mas é certo que daqui a um ano os fãs de cinema estarão de novo discutindo, elocubrando, resmungando e comemorando as vitórias de seus preferidos. É um ritual tão querido quanto desprezado, mas que jamais passa despercebido.