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BROOKLYN
Posted by Clenio
on
18:28
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CINEMA 2016
Filmes que retratam a imigração de estrangeiros que buscam uma vida melhor nos EUA seguem normalmente a mesma receita: muito sofrimento, preconceito dos nativos e, dependendo do sadismo do roteirista, um final mais ou menos trágico. Felizmente para cada regra há exceções, e "Brooklyn", baseado no romance de Colm Tóibín e adaptado pelo escritor Nick Hornby, é uma delas. Dirigida por John Crawley e indicada a três Oscar - filme, roteiro e atriz (Saoirse Ronan) - a história de uma jovem irlandesa que deixa seu país natal atrás de maiores oportunidades de sucesso na terra das oportunidades pós-Segunda Guerra é uma das melhores surpresas entre os candidatos escolhidos pela Academia este ano. Simples, delicado e de um otimismo contagiante que vai conquistando o público aos poucos, o trabalho de Crawley nada contra a corrente de violência e desilusão do cinema contemporâneo ao optar por um viés romântico e poético de um tema ainda hoje motivo de discussão na América (vale lembrar que certo candidato republicano é francamente contra a imigração).
A trama de "Brooklyn" é de uma simplicidade franciscana, o que não deixa de ser uma deliciosa pausa aos roteiros intrincados e repletos de reviravoltas que dominam o mercado: no começo da década de 50, a jovem Eilis (Saoirse Ronan) deixa sua Irlanda natal e embarca em um navio rumo à Nova York, onde, com a ajuda do Padre Flood (Jim Broadbent), irá morar na pensão da rígida porém amável Sra. Keogh (Julie Walters) e trabalhar em uma loja de departamentos, além de iniciar um curso de contabilidade. Enquanto tenta se adaptar à nova realidade, Eilis sofre com a saudade de casa, mas passa a ver tudo com novos olhos quando se apaixona por Tony (Emory Cohen), um descendente de italianos que a pede em casamento. Sua felicidade e suas convicções são postas em cheque, porém, quando ela viaja à Irlanda por um tempo e passa a ser cortejada por Jim Farrell (Dohmnall Gleeson), que representa para ela o retorno às origens e à família.
Contrariando todas as expectativas em relação ao desenvolvimento da história - é bom não contar muito para não estragar a experiência - o roteiro de "Brooklyn" valoriza os diálogos deliciosos, de ritmo certeiro e o desenho dos personagens, que soam muito mais reais do que normalmente acontece no cinema. Tanto Eilis quanto aqueles que a rodeiam parecem gente de verdade, sendo capazes de gestos grandiosos e pequenas mesquinharias - além da inteligência do roteiro em fugir de estereótipos raciais óbvios e tratar a todos com o mesmo carinho e simpatia. Com essa visão humanista e singela das coisas, a direção de Crowley encontra em Saoirse Ronan a encarnação perfeita de seus objetivos: mais conhecida como a pérfida Briony Tallis de "Desejo e reparação" (que lhe deu uma indicação ao Oscar de coadjuvante ainda na adolescência), Ronan é uma atriz de recursos aparentemente ilimitados, capaz de provocar na plateia todos os tipos de sentimento sem nunca precisar alterar a voz ou apelar para o exagero. Seus expressivos olhos azuis conquistam já na primeira cena e é difícil não torcer por sua felicidade, mesmo que por vezes suas atitudes não correspondam ao que se espera dela.
Pontuado por uma trilha sonora que espelha a delicadeza do tratamento dado à história e com uma reconstituição de época eficiente mas que jamais chama a atenção para si em detrimento dos personagens, "Brooklyn" é um dos melhores filmes do ano e não apenas merece as três indicações ao Oscar que conquistou como deveria ter sido lembrado em outras. É um filme para deixar o espectador com um sorriso nos lábios ao final da sessão, pensando na beleza das palavras finais de seu roteiro e no brilhantismo discreto de seu resultado final. Um filme imperdível!
A trama de "Brooklyn" é de uma simplicidade franciscana, o que não deixa de ser uma deliciosa pausa aos roteiros intrincados e repletos de reviravoltas que dominam o mercado: no começo da década de 50, a jovem Eilis (Saoirse Ronan) deixa sua Irlanda natal e embarca em um navio rumo à Nova York, onde, com a ajuda do Padre Flood (Jim Broadbent), irá morar na pensão da rígida porém amável Sra. Keogh (Julie Walters) e trabalhar em uma loja de departamentos, além de iniciar um curso de contabilidade. Enquanto tenta se adaptar à nova realidade, Eilis sofre com a saudade de casa, mas passa a ver tudo com novos olhos quando se apaixona por Tony (Emory Cohen), um descendente de italianos que a pede em casamento. Sua felicidade e suas convicções são postas em cheque, porém, quando ela viaja à Irlanda por um tempo e passa a ser cortejada por Jim Farrell (Dohmnall Gleeson), que representa para ela o retorno às origens e à família.
Contrariando todas as expectativas em relação ao desenvolvimento da história - é bom não contar muito para não estragar a experiência - o roteiro de "Brooklyn" valoriza os diálogos deliciosos, de ritmo certeiro e o desenho dos personagens, que soam muito mais reais do que normalmente acontece no cinema. Tanto Eilis quanto aqueles que a rodeiam parecem gente de verdade, sendo capazes de gestos grandiosos e pequenas mesquinharias - além da inteligência do roteiro em fugir de estereótipos raciais óbvios e tratar a todos com o mesmo carinho e simpatia. Com essa visão humanista e singela das coisas, a direção de Crowley encontra em Saoirse Ronan a encarnação perfeita de seus objetivos: mais conhecida como a pérfida Briony Tallis de "Desejo e reparação" (que lhe deu uma indicação ao Oscar de coadjuvante ainda na adolescência), Ronan é uma atriz de recursos aparentemente ilimitados, capaz de provocar na plateia todos os tipos de sentimento sem nunca precisar alterar a voz ou apelar para o exagero. Seus expressivos olhos azuis conquistam já na primeira cena e é difícil não torcer por sua felicidade, mesmo que por vezes suas atitudes não correspondam ao que se espera dela.
Pontuado por uma trilha sonora que espelha a delicadeza do tratamento dado à história e com uma reconstituição de época eficiente mas que jamais chama a atenção para si em detrimento dos personagens, "Brooklyn" é um dos melhores filmes do ano e não apenas merece as três indicações ao Oscar que conquistou como deveria ter sido lembrado em outras. É um filme para deixar o espectador com um sorriso nos lábios ao final da sessão, pensando na beleza das palavras finais de seu roteiro e no brilhantismo discreto de seu resultado final. Um filme imperdível!