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TRUMBO: LISTA NEGRA
Posted by Clenio
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20:55
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CINEMA 2016
Na noite de 24 de março de 1954, a deliciosa comédia romântica "A princesa e o plebeu", estrelada por Audrey Hepburn e Gregory Peck saiu da cerimônia de entrega do Oscar com três estatuetas: figurino em preto-e-branco para a experiente Edith Head, atriz para a novata Hepburn e roteiro original para Ian McLellan Hunter. Nada de excepcional, em um ano em que o drama de guerra "A um passo da eternidade", de Fred Zinnemann foi o grande vencedor em oito categorias. O que ninguém desconfiava - nem o público que assistia ao show pela televisão, nem os profissionais de cinema e nem muito menos o comitê do FBI encarregado de investigar casos de comunismo dentro da indústria do entretenimento americano - era que, na verdade, Hunter não era o verdadeiro autor do roteiro de "A princesa e o plebeu". O real criador daqueles encantadores personagens se chamava Dalton Trumbo, e naquele momento, ele estava proibido de exercer sua profissão por ser considerado uma ameaça ao país - uma proibição que se estendia a outros nove profissionais do cinema e que o fez cumprir também uma pena de dez meses de prisão. Pois é esse personagem - fundamental para entender um dos períodos mais negros de Hollywood - o protagonista de "Trumbo: lista negra", que chegou à lista dos indicados ao Oscar 2016 em uma categoria nada desprezível: melhor ator.
Interpretado por Bryan Cranston - elevado à categoria de astro depois do sucesso inegável da série "Breaking Bad" - Dalton Trumbo chega às telas sob a direção de Jay Roach, um cineasta que equilibra sua carreira entre bobagens divertidas - "Austin Powers" e "Entrando numa fria" - e produções sérias para a televisão americana - "Recontagem" (08) e "Virada no jogo" (12), que mostram um surpreendente viés político em sua obra. Correto mas pouco criativo, Roach comanda "Trumbo" com discrição quase excessiva, deixando que a história e os personagens falem por si. Não seria uma opção equivocada se o roteiro também não seguisse a mesma linha, quase didática e um tanto fria em relação a seus heróis. Com uma atuação contida e mais cerebral que emocional, Cranston reflete o tom da narrativa, que prende o espectador mas não chega a encantar. É inegável, no entanto, o extremo cuidado com a requintada produção e a escolha certeira de elenco - que inclui Diane Lane, John Goodman e a sempre excelente Helen Mirren, injustamente esnobada pela Academia mesmo depois de ter sido indicada ao Golden Globe de atriz coadjuvante por seu brilhante desempenho como a colunista de fofocas Hedda Hopper - figura conhecidíssima e influente no meio cinematográfico da época e uma das principais responsáveis pela queda do protagonista rumo a seu inferno pessoal.
Mergulhando nos bastidores da Hollywood das décadas de 40 e 50, "Trumbo" aproveita para mostrar também como alguns dos maiores ídolos da época reagiram ao surgimento do Comitê criado pelo Senador Joseph McCarthy com a desculpa de proteger os EUA da ameaça comunista. Diante dos olhos do espectador, John Wayne (David James Elliott) se mostra pouco admirável, Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg) um homem mais afeito aos interesses pessoais do que aos amigos, Louis B. Mayer (Richard Portnow) um covarde suscetível a chantagens e Hedda Hopper uma mulher venenosa e cruel, mais destrutiva com suas colunas nos jornais e nas telas de cinema do que muitos agentes do FBI. Por outro lado, o filme mostra também a coragem de gente como Kirk Douglas (Dean O'Gorman) e Otto Preminger (Christian Berkel) em desafiar as arbitrariedades de uma lei fascista que impedia os grandes talentos de trabalharem e serem reconhecidos por isso - uma situação já mostrada também em "Culpado por suspeita", de Irwin Winkler (estrelado por Robert DeNiro em 1991) e "Boa noite, e boa sorte" (dirigido por George Clooney em 2005) - com quem divide um discurso final de grande inteligência e importância em tempos tão conservadores.
Mesmo que seja um típico caso de história maior do que o filme, "Trumbo: lista negra" é um trabalho extremamente eficiente em retratar sua época e revelar ao grande público a trajetória de um dos grandes autores do cinema hollywoodiano clássico. É um filme elegante, discreto e politicamente importante, que perde pontos apenas por ser excessivamente quadrado em sua narrativa. Um defeito pequeno se comparado às suas várias qualidades.
Interpretado por Bryan Cranston - elevado à categoria de astro depois do sucesso inegável da série "Breaking Bad" - Dalton Trumbo chega às telas sob a direção de Jay Roach, um cineasta que equilibra sua carreira entre bobagens divertidas - "Austin Powers" e "Entrando numa fria" - e produções sérias para a televisão americana - "Recontagem" (08) e "Virada no jogo" (12), que mostram um surpreendente viés político em sua obra. Correto mas pouco criativo, Roach comanda "Trumbo" com discrição quase excessiva, deixando que a história e os personagens falem por si. Não seria uma opção equivocada se o roteiro também não seguisse a mesma linha, quase didática e um tanto fria em relação a seus heróis. Com uma atuação contida e mais cerebral que emocional, Cranston reflete o tom da narrativa, que prende o espectador mas não chega a encantar. É inegável, no entanto, o extremo cuidado com a requintada produção e a escolha certeira de elenco - que inclui Diane Lane, John Goodman e a sempre excelente Helen Mirren, injustamente esnobada pela Academia mesmo depois de ter sido indicada ao Golden Globe de atriz coadjuvante por seu brilhante desempenho como a colunista de fofocas Hedda Hopper - figura conhecidíssima e influente no meio cinematográfico da época e uma das principais responsáveis pela queda do protagonista rumo a seu inferno pessoal.
Mergulhando nos bastidores da Hollywood das décadas de 40 e 50, "Trumbo" aproveita para mostrar também como alguns dos maiores ídolos da época reagiram ao surgimento do Comitê criado pelo Senador Joseph McCarthy com a desculpa de proteger os EUA da ameaça comunista. Diante dos olhos do espectador, John Wayne (David James Elliott) se mostra pouco admirável, Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg) um homem mais afeito aos interesses pessoais do que aos amigos, Louis B. Mayer (Richard Portnow) um covarde suscetível a chantagens e Hedda Hopper uma mulher venenosa e cruel, mais destrutiva com suas colunas nos jornais e nas telas de cinema do que muitos agentes do FBI. Por outro lado, o filme mostra também a coragem de gente como Kirk Douglas (Dean O'Gorman) e Otto Preminger (Christian Berkel) em desafiar as arbitrariedades de uma lei fascista que impedia os grandes talentos de trabalharem e serem reconhecidos por isso - uma situação já mostrada também em "Culpado por suspeita", de Irwin Winkler (estrelado por Robert DeNiro em 1991) e "Boa noite, e boa sorte" (dirigido por George Clooney em 2005) - com quem divide um discurso final de grande inteligência e importância em tempos tão conservadores.
Mesmo que seja um típico caso de história maior do que o filme, "Trumbo: lista negra" é um trabalho extremamente eficiente em retratar sua época e revelar ao grande público a trajetória de um dos grandes autores do cinema hollywoodiano clássico. É um filme elegante, discreto e politicamente importante, que perde pontos apenas por ser excessivamente quadrado em sua narrativa. Um defeito pequeno se comparado às suas várias qualidades.