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CINE HOLLIÚDY
Posted by Clenio
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23:41
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CINEMA 2013
Chega a ser desanimador o panorama da comédia feita no Brasil. Uma vez que a Globo Filmes assumiu o monopólio do gênero com produtos de gosto duvidoso - pra não dizer de extremo mau-gosto - ficou difícil ao espectador com um mínimo de inteligência conseguir dar risadas no escurinho do cinema com produções brazucas. Felizmente focos de resistência sempre existem e as produções regionais acabam surgindo como luzes no fim do túnel. Um exemplo vivo dessa afirmação e dessa tendência é "Cine Holliúdy", de Halder Gomes. Distante anos-luz da pasteurizada produção oriunda da Globo, a comédia do diretor cearense brinca com os clichês cinematográficos para contar a emocionante saga de Francisgleydsson (Edmilson Filho), proprietário do cinema do título, em busca de manter seu negócio no interior do Ceará dos anos 70, apesar da ameaçadora presença da TV, iniciando sua dominação popular.
A temática que contrapõe a invasão da televisão contra as salas de cinema lembra o mote do setentista "Bye bye, Brasil", de Cacá Diegues, onde um grupo de artistas de circo precisavam lidar com o esvaziamento de seus espetáculos diante da máquina de fazer doidos. Mas as semelhanças param por aí: enquanto o filme de Diegues utilizava-se de rostos conhecidos do público para contar sua história - e tinha música-tema composta especialmente por Chico Buarque - "Cine Holliúdy" tem como principais atrativos seu elenco de atores locais, de rostos marcantes como personagens de Fellini e a trilha sonora deliciosa que resgata clássicos do cancioneiro brega, de Odair José a Márcio Greyck, que brinda o público com uma participação afetiva que dá o tom exato entre despretensão e carinho que define o filme.
Buscando em sua infância a inspiração para a gama de personagens engraçadíssimos que desfila pela tela, Halder expande, em seu filme, a ideia de seu próprio curta "Cine Holiúdy, o astista contra o caba do mal", premiadíssimo em festivais de cinema de 20 países. Utilizando-se de legendas para facilitar o entendimento do dialeto cearense utilizado nos diálogos hilariantes criados por seu roteiro, o diretor não hesita em abraçar firmemente suas origens, sem medo de soar bairrista ou ininteligível. Cantando sua aldeia para tornar-se universal, conforme aconselhado por Tolstói, Gomes conquista pela simplicidade de seus protagonistas e pelo amor que eles tem pela sétima arte, maior até do que seus problemas financeiros. Assim como Selton Mello fez em seu ótimo "O palhaço", Halder descreve a paixão pela arte, pelo riso e pela fantasia como válvula de escape de um mundo sofrido e opressor. É no escurinho do cinema que um menino pobre que toma caldo de feijão imaginando um copo de Toddy sente-se feliz. É assistindo às lutas de artes marciais capengas projetadas no telão que os rapazes da cidade dão vazão a seus sonhos de transformarem-se em super-herois. É naquele espaço abafado que todos são iguais, o prefeito e os desocupados, os gays e os heteros, as mulheres e os homens, os jovens e os velhos. A coleção de figuras que ocupa a pequena Pacatuba se encontra no Cine Holliúdy e ali, todos sonham e viajam juntos.
Não é à toa que "Cine Hollyúdi" tem esse título, que remete diretamente ao inesquecível "Cinema Paradiso", que ganhou o Oscar de filme estrangeiro em 1990. Assim como no filme de Giuseppe Tornatore, a comédia de Gomes também tem a sétima arte como personagem e mola-mestra. Semelhante ao já clássico italiano, o conto de superação de Francisgleydsson (vivido com extraordinária graça por Edmilson Filho, que tem uma cena genial onde dramatiza um filme inteiro diante dos espectadores) é uma ode ao espírito humano e à paixão pela arte. É simples, é direto e é uma das melhores comédias que o cinema nacional já criou.
A temática que contrapõe a invasão da televisão contra as salas de cinema lembra o mote do setentista "Bye bye, Brasil", de Cacá Diegues, onde um grupo de artistas de circo precisavam lidar com o esvaziamento de seus espetáculos diante da máquina de fazer doidos. Mas as semelhanças param por aí: enquanto o filme de Diegues utilizava-se de rostos conhecidos do público para contar sua história - e tinha música-tema composta especialmente por Chico Buarque - "Cine Holliúdy" tem como principais atrativos seu elenco de atores locais, de rostos marcantes como personagens de Fellini e a trilha sonora deliciosa que resgata clássicos do cancioneiro brega, de Odair José a Márcio Greyck, que brinda o público com uma participação afetiva que dá o tom exato entre despretensão e carinho que define o filme.
Buscando em sua infância a inspiração para a gama de personagens engraçadíssimos que desfila pela tela, Halder expande, em seu filme, a ideia de seu próprio curta "Cine Holiúdy, o astista contra o caba do mal", premiadíssimo em festivais de cinema de 20 países. Utilizando-se de legendas para facilitar o entendimento do dialeto cearense utilizado nos diálogos hilariantes criados por seu roteiro, o diretor não hesita em abraçar firmemente suas origens, sem medo de soar bairrista ou ininteligível. Cantando sua aldeia para tornar-se universal, conforme aconselhado por Tolstói, Gomes conquista pela simplicidade de seus protagonistas e pelo amor que eles tem pela sétima arte, maior até do que seus problemas financeiros. Assim como Selton Mello fez em seu ótimo "O palhaço", Halder descreve a paixão pela arte, pelo riso e pela fantasia como válvula de escape de um mundo sofrido e opressor. É no escurinho do cinema que um menino pobre que toma caldo de feijão imaginando um copo de Toddy sente-se feliz. É assistindo às lutas de artes marciais capengas projetadas no telão que os rapazes da cidade dão vazão a seus sonhos de transformarem-se em super-herois. É naquele espaço abafado que todos são iguais, o prefeito e os desocupados, os gays e os heteros, as mulheres e os homens, os jovens e os velhos. A coleção de figuras que ocupa a pequena Pacatuba se encontra no Cine Holliúdy e ali, todos sonham e viajam juntos.
Não é à toa que "Cine Hollyúdi" tem esse título, que remete diretamente ao inesquecível "Cinema Paradiso", que ganhou o Oscar de filme estrangeiro em 1990. Assim como no filme de Giuseppe Tornatore, a comédia de Gomes também tem a sétima arte como personagem e mola-mestra. Semelhante ao já clássico italiano, o conto de superação de Francisgleydsson (vivido com extraordinária graça por Edmilson Filho, que tem uma cena genial onde dramatiza um filme inteiro diante dos espectadores) é uma ode ao espírito humano e à paixão pela arte. É simples, é direto e é uma das melhores comédias que o cinema nacional já criou.