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AS AVENTURAS DE PI
Posted by Clenio
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16:54
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CINEMA 2013
Quando a mania de filmes em 3D tornou-se uma realidade - em especial depois do impressionante êxito comercial de "Avatar", de James Cameron - o público foi praticamente soterrado de produções de resultados sofríveis, que utilizavam a ferramenta apenas para ganhar mais dinheiro, em detrimento de qualquer preocupação com outros fatores que também fazem de ir ao cinema uma experiência única, como roteiro, atuações e até mesmo bom-senso. Dezenas de blockbusters erraram a mão em suas tentativas de conquistar os espectadores exigentes, concentrando-se mais nas bilheterias do que na qualidade de seus produtos. Se por um lado isso deixou bem claro que orçamentos milionários não bastam para transformar lixo cinematográfico em em bons filmes, também mostrou que, aliada ao talento de cineastas realmente criativos e inteligentes, a tecnologia pode muito bem agregar emoção e encanto ao resultado final de uma obra. Martin Scorsese fez isso com perfeição em "A invenção de Hugo Cabret" - que lhe deu a oportunidade de homenagear o cinema em seus primórdios. E agora Ang Lee também brinca com as possibilidades do formato com o belíssimo "As aventuras de Pi" - que pode lhe render um segundo Oscar de direção.
Baseado em um romance de Yann Martel - por sua vez inspirado no nacional "Max e os felinos", escrito por Moacyr Scliar - "As aventuras de Pi" é narrado de forma poética e lírica por Lee, um cineasta capaz de emocionar sem apelar para o sentimentalismo barato (que o digam as pessoas que saíram aos prantos das salas de exibição depois de "O segredo de Brokeback Mountain", por exemplo). Com pleno domínio da arte cinematográfica, o diretor oriundo de Taiwan seduz a plateia com um visual arrebatador - a fotografia é deslumbrante e pode abocanhar uma estatueta dourada - e uma técnica invejável, mas jamais perde o foco da história que quer contar. Por mais que o público fique extasiado com as cenas criadas por ele - com auxílio de CGI, naturalmente, mas de forma tão sutil que parece real - em momento algum a técnica sobrepõe-se à emoção. Assim como em "O tigre e o dragão" as coreografadas lutas nunca eclipsavam os relacionamentos interpessoais entre as personagens, em "As aventuras de Pi" tudo serve à história, sem nenhum tipo de gratuidade.
Apesar de ter sido vendido como "a hístória de um rapaz indiano que sobrevive a um naufrágio e fica perdido no mar dentro de um bote, contando apenas com um tigre-de-benagala como companhia", o filme de Ang Lee é bem mais do que isso. Basta dizer que o tal naufrágio que dá o empurrão inicial para tais aventuras só acontece depois de 40 minutos de projeção. Antes disso, o roteiro faz questão de não ter pressa em contar a infância e a adolescência de seu protagonista, Piscina ou simplesmente Pi (Suraj Sharma), um jovem que mora com a família, proprietária de um zoológico. Até que todos decidam abandonar seu país de origem e embarcar para o Canadá - todos em termos, já que o rapaz não tem a menor vontade de abandonar sua vida e seu grande amor - o cineasta conta sua história de forma tranquila e encantadora. Depois da reviravolta da trama - com o acidente com o navio e a morte de todos os seus tripulantes - a magia acontece. Primeiramente tendo que dividir seu bote com o tigre, um orangotango, uma zebra e uma hiena, Pi chega à conclusão que precisa aprender a conviver com os animais - e também testemunhar sua luta pela sobrevivência.
Mesmo que a sinopse pareça um tanto chata e sem muitos atrativos senão o visual espetacular, "As aventuras de Pi" surpreende principalmente por manter um ritmo admirável, que impede a plateia do tédio que poderia surgir. Narrada por Pi em sua maturidade para um jovem escritor, a trajetória do menino tornado homem pela experiência única chega a seu final com vastas possibilidades de emocionar o espectador, especialmente por tratá-lo com inteligência e sensibilidade. Fascinante e belo, é um dos poucos filmes indicados ao Oscar principal deste ano que realmente merece estar na lista final.
Baseado em um romance de Yann Martel - por sua vez inspirado no nacional "Max e os felinos", escrito por Moacyr Scliar - "As aventuras de Pi" é narrado de forma poética e lírica por Lee, um cineasta capaz de emocionar sem apelar para o sentimentalismo barato (que o digam as pessoas que saíram aos prantos das salas de exibição depois de "O segredo de Brokeback Mountain", por exemplo). Com pleno domínio da arte cinematográfica, o diretor oriundo de Taiwan seduz a plateia com um visual arrebatador - a fotografia é deslumbrante e pode abocanhar uma estatueta dourada - e uma técnica invejável, mas jamais perde o foco da história que quer contar. Por mais que o público fique extasiado com as cenas criadas por ele - com auxílio de CGI, naturalmente, mas de forma tão sutil que parece real - em momento algum a técnica sobrepõe-se à emoção. Assim como em "O tigre e o dragão" as coreografadas lutas nunca eclipsavam os relacionamentos interpessoais entre as personagens, em "As aventuras de Pi" tudo serve à história, sem nenhum tipo de gratuidade.
Apesar de ter sido vendido como "a hístória de um rapaz indiano que sobrevive a um naufrágio e fica perdido no mar dentro de um bote, contando apenas com um tigre-de-benagala como companhia", o filme de Ang Lee é bem mais do que isso. Basta dizer que o tal naufrágio que dá o empurrão inicial para tais aventuras só acontece depois de 40 minutos de projeção. Antes disso, o roteiro faz questão de não ter pressa em contar a infância e a adolescência de seu protagonista, Piscina ou simplesmente Pi (Suraj Sharma), um jovem que mora com a família, proprietária de um zoológico. Até que todos decidam abandonar seu país de origem e embarcar para o Canadá - todos em termos, já que o rapaz não tem a menor vontade de abandonar sua vida e seu grande amor - o cineasta conta sua história de forma tranquila e encantadora. Depois da reviravolta da trama - com o acidente com o navio e a morte de todos os seus tripulantes - a magia acontece. Primeiramente tendo que dividir seu bote com o tigre, um orangotango, uma zebra e uma hiena, Pi chega à conclusão que precisa aprender a conviver com os animais - e também testemunhar sua luta pela sobrevivência.
Mesmo que a sinopse pareça um tanto chata e sem muitos atrativos senão o visual espetacular, "As aventuras de Pi" surpreende principalmente por manter um ritmo admirável, que impede a plateia do tédio que poderia surgir. Narrada por Pi em sua maturidade para um jovem escritor, a trajetória do menino tornado homem pela experiência única chega a seu final com vastas possibilidades de emocionar o espectador, especialmente por tratá-lo com inteligência e sensibilidade. Fascinante e belo, é um dos poucos filmes indicados ao Oscar principal deste ano que realmente merece estar na lista final.