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AS SESSÕES
Posted by Clenio
on
20:28
in
CINEMA 2013
Uma verdade quase absoluta entre a indústria hollywoodiana é que o papel de uma pessoa com qualquer tipo de deficiência física ou mental já é meio caminho andado para os tapetes vermelhos que levam a prêmios cobiçados como Golden Globe e Oscar. Por isso não deixou de ser uma surpresa quando John Hawkes ficou de fora da lista de indicados à estatueta dourada este ano, por seu trabalho em "As sessões". Produção independente dirigida por Ben Lewin - cujo currículo inclui vários episódios de séries de TV e o denso "Georgia", de 1995, que deu a Mare Winningham uma indicação ao Oscar de coadjuvante - e baseado em fatos reais, o filme agradou em cheio ao público do Festival de Sundance e recebeu inúmeras loas por sua qualidade, mas somente o trabalho de Helen Hunt foi lembrado pelos eleitores da Academia. Tentando uma volta aos holofotes quinze anos depois de seu Oscar de melhor atriz por "Melhor é impossível", Hunt tem, porém, poucas chances de vitória contra a favorita Anne Hathway.
Hawkes - que concorreu ao Golden Globe e ao Screen Actors Guild por seu desempenho impecável - vive Mark O'Brien, um homem de 38 anos condenado à uma paralisia quase total que lhe impede de mexer quaisquer partes do corpo abaixo do pescoço, devido a uma poliomielite adquirida na infância. Virgem, ele não deixa de ter intensos desejos lúbricos, o que o leva a constantes conversas com o padre de sua paróquia (atuação hilariante de William H. Macy). Sua condição sexual acaba chamando a atenção de sua enfermeira que, com a ajuda de conhecidos, lhe recomenda a contratação dos serviços de Cheryl Cohen-Greene (Helen Hunt), uma terapeuta sexual. Casada e mãe, Cheryl leva sua profissão a sério e tentará, em seis sessões, fazer com que O'Brien descubra os prazeres de uma vida sexual ativa a despeito de suas limitações. Encantado por ela, o homem acaba se apaixonando, mesmo sabendo que suas chances com ela são nulas.
Apesar do tema pesado e das inúmeras possibilidades de esbarrar em clichês melodramáticos, "As sessões" se beneficia muito da leveza com que o cineasta/roteirista lhe envolve. Ao contrário do que poderia ocorrer, a doença do protagonista nunca descamba para o lacrimoso ou o exagerado, ficando sempre no limiar do melancólico com o tragicômico. A atuação de John Hawkes - que concorreu ao Oscar de coadjuvante há dois anos por "Inverno da alma" - é sutil e não força a compaixão do espectador, principalmente porque não tem jamais pena de si mesmo. Seus diálogos com o pároco interpretado por William H. Macy são ao mesmo tempo ternos e engraçados, possibilitando ao espectador um saudável distanciamento do drama do protagonista, enquanto todas as cenas em que Hawkes e Helen Hunt estão juntos aumentam o interesse pelo desenrolar da trama. É admirável a maneira com que Lewin não explora com vulgaridade as cenas de sexo entre os dois, mesmo que Hunt não tenha o menor pudor em mostrar seu corpo. O sexo como visto aqui não é uma manifestação erótica e sim uma forma de inclusão social e sentimental, e a maneira como tudo é filmado (sem artifícios sensuais ou uma edição que transmita outra ideia) é extremamente acertada. Por outro lado, a opção do diretor em fugir do sentimentalismo ou do voyeurismo barato afasta de forma considerável a empatia do público com seus personagens.
Por não ser um "deficiente engraçadinho" como muitos dos filmes semelhantes que volta e meia são louvados pela Academia, o Mark O'Brien de John Hawkes não conquista a plateia com cenas exageradas ou por discursos inflamados. Seu olhar - ora lúbrico ora apaixonado - diz o suficiente sobre seus pensamentos e sua relação com o mundo é neutra o bastante para não potencializar o dramalhão que sua história já é. Essa quase neutralidade imposta por Ben Lewin é louvável em parte, mas acaba tirando do público a chance de se envolver mais, se emocionar mais, de torcer mais. Essa falta de empatia emocional talvez tenha sido o algoz das possibilidades do ator em sua busca pelo Oscar, mas, se isso serve de consolo, o coloca alguns patamares acima, por exemplo, do overacting de Sean Penn em "Uma lição de amor" - sintomaticamente indicado à estatueta em 2002.
"As sessões" é um belo filme, competente e interessante. Mas, em suas tentativas desesperadas de fugir do melodrama, acaba por impedir a audiência de uma conexão mais ampla. Salva-se a história inspiradora e as atuações esplêndidas de seu elenco.
Hawkes - que concorreu ao Golden Globe e ao Screen Actors Guild por seu desempenho impecável - vive Mark O'Brien, um homem de 38 anos condenado à uma paralisia quase total que lhe impede de mexer quaisquer partes do corpo abaixo do pescoço, devido a uma poliomielite adquirida na infância. Virgem, ele não deixa de ter intensos desejos lúbricos, o que o leva a constantes conversas com o padre de sua paróquia (atuação hilariante de William H. Macy). Sua condição sexual acaba chamando a atenção de sua enfermeira que, com a ajuda de conhecidos, lhe recomenda a contratação dos serviços de Cheryl Cohen-Greene (Helen Hunt), uma terapeuta sexual. Casada e mãe, Cheryl leva sua profissão a sério e tentará, em seis sessões, fazer com que O'Brien descubra os prazeres de uma vida sexual ativa a despeito de suas limitações. Encantado por ela, o homem acaba se apaixonando, mesmo sabendo que suas chances com ela são nulas.
Apesar do tema pesado e das inúmeras possibilidades de esbarrar em clichês melodramáticos, "As sessões" se beneficia muito da leveza com que o cineasta/roteirista lhe envolve. Ao contrário do que poderia ocorrer, a doença do protagonista nunca descamba para o lacrimoso ou o exagerado, ficando sempre no limiar do melancólico com o tragicômico. A atuação de John Hawkes - que concorreu ao Oscar de coadjuvante há dois anos por "Inverno da alma" - é sutil e não força a compaixão do espectador, principalmente porque não tem jamais pena de si mesmo. Seus diálogos com o pároco interpretado por William H. Macy são ao mesmo tempo ternos e engraçados, possibilitando ao espectador um saudável distanciamento do drama do protagonista, enquanto todas as cenas em que Hawkes e Helen Hunt estão juntos aumentam o interesse pelo desenrolar da trama. É admirável a maneira com que Lewin não explora com vulgaridade as cenas de sexo entre os dois, mesmo que Hunt não tenha o menor pudor em mostrar seu corpo. O sexo como visto aqui não é uma manifestação erótica e sim uma forma de inclusão social e sentimental, e a maneira como tudo é filmado (sem artifícios sensuais ou uma edição que transmita outra ideia) é extremamente acertada. Por outro lado, a opção do diretor em fugir do sentimentalismo ou do voyeurismo barato afasta de forma considerável a empatia do público com seus personagens.
Por não ser um "deficiente engraçadinho" como muitos dos filmes semelhantes que volta e meia são louvados pela Academia, o Mark O'Brien de John Hawkes não conquista a plateia com cenas exageradas ou por discursos inflamados. Seu olhar - ora lúbrico ora apaixonado - diz o suficiente sobre seus pensamentos e sua relação com o mundo é neutra o bastante para não potencializar o dramalhão que sua história já é. Essa quase neutralidade imposta por Ben Lewin é louvável em parte, mas acaba tirando do público a chance de se envolver mais, se emocionar mais, de torcer mais. Essa falta de empatia emocional talvez tenha sido o algoz das possibilidades do ator em sua busca pelo Oscar, mas, se isso serve de consolo, o coloca alguns patamares acima, por exemplo, do overacting de Sean Penn em "Uma lição de amor" - sintomaticamente indicado à estatueta em 2002.
"As sessões" é um belo filme, competente e interessante. Mas, em suas tentativas desesperadas de fugir do melodrama, acaba por impedir a audiência de uma conexão mais ampla. Salva-se a história inspiradora e as atuações esplêndidas de seu elenco.