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O VOO

Posted by Clenio on 18:27 in
Levando-se em consideração que a filmografia de Robert Zemeckis inclui a trilogia "De volta para o futuro", o revolucionário "Uma cilada para Roger Rabbit" e o megapremiado "Forrest Gump" - e que desde "Náufrago", de um distante ano 2000 ele não brindava seu público com filmes em live-action - não deixa de ser surpreendente ver seu nome assinando "O voo", uma produção simples, honesta e humana e que, excetuando-se uma tensa sequência que mostra um acidente aéreo, prescinde de efeitos visuais e artifícios estilísticos. Depois de uma sucessão de trabalhos cujo visual importava mais do que o conteúdo, o mais bem-sucedido discípulo de Steven Spielberg marca sua volta de maneira discreta mas bastante eficiente. Com uma renda de mais de 90 milhões de dólares no mercado americano - contra seu custo relativamente baixo de 30 milhões - "O voo" ainda conseguiu agradar à crítica e à Academia de Hollywood, que o brindou com duas indicações ao Oscar: roteiro original e ator - Denzel Washington em uma atuação bem mais contida do que o normal.

Afeito à personagens heroicas e/ou arrogantes, Washington se sai notavelmente bem em um papel que foge de sua zona de conforto. Whip Whitaker, o piloto de aviões alcóolatra e viciado em drogas que consegue milagrosamente evitar uma tragédia de grandes proporções e depois se vê acossado por seus superiores e pela própria consciência é uma das melhores personagens de sua carreira nos últimos anos, lhe proporcionando a chance de explorar nuances de seu talento até então escondidos sob uma camada de exarcebada autoestima. Poucas vezes o público viu Denzel tão frágil e inseguro e esse risco - talvez calculado, mas eficiente - é a maior qualidade do filme, que, mesmo mantendo o interesse da plateia até seu final, não consegue deixar de esbarrar em alguns clichês. Nada, porém, que atrapalhe o resultado final.

Dirigido com firmeza e sutileza por um Robert Zemeckis de volta à sua atenção às personagens e seus atores - qualidade que lhe rendeu um Oscar por "Forrest Gump" e que sempre ficou muito em evidência em seus trabalhos, mesmo os menos sérios - "O voo" é, na verdade, totalmente centrado na figura de Whitaker, um homem em constante luta contra seus fantasmas que, depois do desastre do avião que pilotava (mesmo calibrado de álcool e cocaína) vê suas certezas abaladas e tenta reencontrar seu caminho - e sente-se pressionado por uma investigação que pode dar fim à sua carreira. Zemeckis acerta em centrar a trama nas costas capazes de Washington, mas de certa forma isso acaba deixando de lado algumas possibilidades interessantes - como sua relação com a jovem viciada Nicole (Kelly Reilly), tratada de forma um tanto desajeitada pelo roteiro. Sem ter muito onde apoiar-se - até mesmo as cenas de tribunal soam apenas corretas e não empolgantes - resta ao ator (indicado ao Oscar, mas sem muitas chances de vitória) dar seu show particular, o que com certeza agrada a seus fãs e até mesmo a seus detratores, que podem ver aqui uma outra face.

"O voo" é um belo drama, dirigido com competência e estrelado por um ator em um grande momento. Pode não ser excepcional ou inesquecível, mas cumpre o que promete sem aborrecer ao espectador. Em tempos de obras ambiciosas e morosas como os louvados "Lincoln" e "Os miseráveis", isso não deixa de ser um alívio.

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