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O MESTRE

Posted by Clenio on 16:55 in
O cinema de Paul Thomas Anderson não é para qualquer um. A forma bastante peculiar com que o cineasta trata de personagens complexas/problemáticas não é exatamente o que os fãs de produções mainstrean procuram quando se dispõem a frequentar salas de exibição. Posto isso, é bom que o espectador saiba exatamente o que esperar quando for assistir a "O mestre", novo trabalho do cineasta que desde seu segundo longa, "Boogie nights", se tornou uma espécie de queridinho da crítica mas nunca chegou a emplacar um enorme sucesso de bilheteria justamente por não se render a concessões comerciais. Erroneamente descrito por gente mal-informada como uma crítica à Cientologia - culto bastante popular nos EUA e especialmente em Hollywood, onde tem seguidores fervorosos como Tom Cruise e John Travolta - a trama criada por Anderson vai mais fundo do que simplesmente expor as entranhas de qualquer culto ou religião, dando ênfase muito mais à alma de seu protagonista, torturado por questões pessoais mal resolvidas e um insegurança cruel em relação a como tratar de sua própria vida.

Vivido por um sensacional Joaquin Phoenix na única atuação masculina do ano capaz de tirar o Oscar das mãos de Daniel Day-Lewis, o veterano da Marinha americana Freddie Quell é uma das mais fortes personagens criadas por Paul Thomas Anderson - e isso que estamos falando do homem por trás de crias antológicas como Dirk Diggler e Jack Horner, de "Boogie nights", Frank McKey, de "Magnólia" e Daniel Plainview, de "Sangue negro" (este último criado pelo romancista Upton Sinclair mas adequado perfeitamente à obra do cineasta). Sofrendo de um alcoolismo crônico oriundo de seu stress pós-guerra e incapaz de manter-se em qualquer emprego - além de ter sérios problemas de relacionamento com as pessoas que o rodeiam - ele acaba, em uma de suas crises, invadindo o iate de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), criador e líder de um culto chamado A Causa. Percebendo em Freddie uma alma presa a questões traumáticas de seu passado, Dodd também vê no jovem um grande potencial e o aceita junto a seu grupo e sua família. O comportamento errático e violento de Freddie, porém, vai entrar em rota de colisão com as regras e ensinamentos de Dodd, que se vê pressionado a tomar uma séria decisão entre manter ou não o rapaz junto dele.

"O mestre" é o típico filme que é muito melhor quando assistido do que quando resumido em palavras. Apesar da história ser interessante por si só, são as imagens cuidadosamente planejadas de Paul Thomas Anderson e a atuação de seus magníficos atores que dão a ele seu status de grande obra. Mesmo que o ritmo por vezes seja claudicante - e exija um nível de paciência extra de seus espectadores - a narrativa de Anderson é instigante o suficiente para prender a atenção, em especial porque, assim como em seus trabalhos anteriores, o roteiro nunca escorrega para o previsível, tanto em termos visuais quanto em níveis de história. Como poucos cineastas de seu tempo, Paul Thomas Anderson tem o dom de mexer em feridas adormecidas de suas personagens, que sofrem para atingir uma redenção que nem sempre existe, e o faz com maestria admirável. Em "O mestre", enquanto questiona a possibilidade das pessoas em ser donas da própria vida (sem depender de muletas de quaisquer tipos, incluindo aí e principalmente a religião) ele brinda o público com interpretações esplêndidas de seu elenco - outra característica marcante de sua filmografia.

É simplesmente hipnotizante, por exemplo, a cena em que Lancaster Dodd tem seu primeiro embate psicológico com Freddie Quell, com uma espécie de interrogatório que leva a uma catarse emocional empolgante: só por essa cena Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman já poderiam sair da cerimônia do próximo domingo com suas estatuetas douradas debaixo do braço. O mesmo pode ser dito da sequência em que os métodos e o culto de Dodd são questionados pelo convidado de uma festa - cena que tem consequências aterradoras que certamente justificam a má-vontade com que os cientologistas receberam o filme nos EUA. É essencial dizer, no entanto, que "O mestre" não é um filme sobre a cientologia e nem tampouco critica qualquer espécie de grupo religioso. O filme - que poderia tranquilamente figurar entre os finalistas ao Oscar principal - é mais um impactante estudo psicológico de Paul Thomas Anderson, caminhando para se tornar um dos maiores cineastas americanos em atividade.

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1 Comments


Meu único ponto negativo sobre o filme é o desenvolvimento do roteiro. Às vezes arrastado. Pra mim.

Vale ver pelas cenas que você disse e concordo muito.

E ainda acho que o Joaquin Phoenix ficou perfeito no filme (como já ouvi por ai) pq ele interpreta a ele mesmo. Só a virada de cabeça pra câmera na cerimônia do Oscar e a ignorada explícita para os aplausos já dizem isso. Não foi humildade, foi arrogância mesmo. Sabe quem me fez ter uma visão diferente dele, né? Hehe

Queria entender aqueles que dizem que é um filme "sobre" cientologia. Não consigo entender. É sobre os personagens, não sobre isso.

Bjooooooooooooo
a.y

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