FICÇÃO x REALIDADE
No filme "A rosa púrpura do Cairo" (em breve um post específico para ele), a protagonista Cecilia, vivida por Mia Farrow se apaixona perdidamente pelo protagonista de seu filme preferido. A paixão por ele é sua única fuga do mundo cruel em que ela vive e de certa forma ela se apaixona por ele por um motivo muito simples: ele não existe de verdade.
Apaixonar-se por uma personagem de ficção talvez seja a saída mais eficaz contra as decepções que frequentemente nos atingem. Uma personagem de ficção ideal - aquela por quem nos apaixonamos - não cheira mal, não transpira, não ronca e principalmente não nos trai. Uma personagem que só existe no âmbito da imaginação - mesmo que exista visualmente - não nos engana, nem humilha, nem nos faz acreditar em nada que não seja verdade - talvez apenas sua existência.
Existe um pensamento que diz que preferir a companhia de seres imaginários é menos saudável do que viver e travar conhecimento com gente de verdade. Mas duvido que os defensores dessa teoria tenham passado por situações tão pouco felizes ao lado de pessoas ditas reais. Sempre que tento, por exemplo, dar uma chance às pessoas, elas me decepcionam. Não conseguem atingir nem as mais tímidas expectativas.A cada dia mais e mais pessoas preferem machucar os outros do que ter com elas relações verdadeiras, de entrega, confiança. São pessoas que utilizam de toda e qualquer desculpa para seus atos imperdoáveis: imaturidade, embriaguez, inexperiência, insegurança. São pessoas que não merecem ser amadas simplesmente porque se protegem contra a felicidade. Pessoas egoístas, autocentradas, pequenas. E entre pessoas com esse nível de caráter e pessoas apenas imaginadas não é nenhum choque que pessoas como Cecilia optem pela segunda opção. Por mais Pollyanna que se seja fica difícil sorrir frente ao triste espetáculo humano que nos é oferecido.
Não sou uma Cecilia, ainda que muitas e muitas vezes ache que somente criações literárias e/ou dramatúrgicas seriam capazes de me surpreender positivamente. Mas certas situações me fazem desacreditar cada vez mais na sensibilidade inerente dos seres humanos de carne e osso. A única esperança que ainda posso ter é de nunca perder os últimos resquícios de fé contra essa gente careta e covarde.