TÁ RINDO DO QUE? / AMANTES
Terminando minha mini-maratona de filmes no Carnaval assisti a dois filmes com ambições distintas, mas resultados semelhantes. Tudo bem que, depois de "Há tanto tempo que te amo" e "Entre os muros da escola" - que me surpreenderam muito positivamente - qualquer filme teria que ser muito especial pra me fascinar, mas nenhum dos dois chegou perto disso.
"Tá rindo do que?" (título nacional muito idiota para "Funny people") nem chegou a passar nos cinemas brasileiros, saindo direto em DVD. Quando se assiste logo entende-se as razões para tal decisão da distribuidora. Apesar de contar com Adam Sandler no papel principal, o filme de Judd Apatow (de "O virgem de 40 anos" e "Ligeiramente grávidos") foge como o diabo da cruz dos típicos produtos que venderam Sandler à plateia (mais americana que a brasileira, diga-se de passagem): o roteiro chega a brincar com a tendência do ator a fazer filmes babacas e sem sentido, mas essas piadas internas, ainda que genuinamente engraçadas, passam longe do público médio que frequenta multiplexes. Sendo assim, "Tá rindo" não chega a ser uma comédia histérica como as estreladas por Sandler e nem mesmo tenta atingir o nível de seriedade de um "Embriagado de amor", por exemplo, que buscava elevá-lo ao patamar de ator sério.
Apatow utiliza, em "Tá rindo do que?" o universo das stand-up comedies para falar de temas sérios, como a proximidade da morte, a solidão e a competitividade inerente ao ser humano. Parece deprê, mas não é. Mas também não é engraçado como se poderia esperar de um filme que tem no elenco Seth Rogen (considerado pela crítica especializada americana como a nova promessa do humor cinematográfico). No filme, ele vive Ira Wright, um jovem que tenta vencer na vida como comediante de palco enquanto trabalha em uma delicatessen. Por obra do destino, ele é contratado para servir de assistente do famosíssimo George Simmons (Sandler), que, do alto de sua arrogância, descobre que tem uma doença rara e praticamente incurável. Totalmente sozinho, ele passa a conviver com Ira e parte atrás do tempo perdido com a família e com o amor de sua vida, uma atriz (Leslie Mann, esposa do diretor) que está casada com um australiano adúltero (atuação hilária de Eric Bana, com um sotaque indescritível). O que pode parecer mais um daqueles filmes de auto-ajuda, no entanto, arrasta-se demasiadamente (145 minutos de duração cansam qualquer vivente) e não se decide entre o profundo e o meramente engraçado. Poderia ser melhor, mas dá pro gasto.
Já "Amantes" (Two lovers), de James Gray, requer uma dose a mais de paciência. Primeiro porque conta com a protagonização de Joaquin Phoenix (a meu ver um dos mais maçantes atores surgidos nos anos 90). Com sua falta de entusiasmo tradicional, ele vive Leonard, um jovem judeu com tendências suicidas que se apaixona pela vizinha Michelle (Gwyneth Paltrow), que vive um caso de amor com seu chefe casado (Elias Koteas). Mesmo sabendo que conquistá-la é uma tarefa hercúlea, ele mantém acesa a esperança, enquanto vive um romance hesitante com Carla (Vinessa Shaw), filha de um casal de amigos de seus pais. Apesar de ter momentos bastante interessantes - e Gwyneth mostra-se excelente atriz em alguns deles - o filme de Gray é arrastado, não desperta maiores paixões e nem ao menos aprofunda-se em vários questionamentos lançados no decorrer de sua projeção. O final é poderoso, mas não sustenta o restante sem sal da obra. Resta rever Isabella Rossellini, uma figura rara no cinema atual, que mantém seu charme mesmo depois dos 50 anos.