POUCO AMOR NÃO É AMOR - UMA HOMENAGEM A NELSON RODRIGUES
Em 1996 eu fazia a faculdade de Jornalismo na PUC e estava absolutamente obcecado por Nelson Rodrigues, a quem lia desde tenros 12 anos quando descobri abismado a peça "Álbum de família". Tudo era Nelson naquela metade dos anos 90, graças à magistral biografia escrita por Ruy Castro ("O anjo pornográfico"), à minissérie "Engraçadinha" e aos episódios semanais de "A vida como ela é" veiculados no "Fantástico", aos domingos, pra toda a família assistir enquanto jantava. Ou seja, naquela metade dos anos 90 o outora maldito Nelson Rodrigues já era palatável e eu não era o único a estar acometido da febre que era sua obra. Minha obsessão só era comparada com a de duas amigas queridas, Márcia Messa e Beatriz Pinto Ribeiro, que, junto comigo, começaram a escrever contos ao estilo de Nelson utilizando como personagens nossas próprias pessoas ao lado de colegas e professores. Ríamos aos montes com nossos absurdos e raramente nossa obra saía do trio.
Em 2001, cinco anos depois, portanto, escolhi algumas das histórias e uni-as em um texto teatral, mais pra me testar como autor do que com reais intenções de encená-las. A peça foi lida, elogiada e devidamente arquivada em uma gaveta. E lá ficaria se, em 2009 não fosse redescoberta e, com a maior cara-de-pau do mundo eu não resolvesse que ela se tornaria minha segunda experiência nos palcos. Surgia então "Pouco amor não é amor - uma homenagem a Nelson Rodrigues", que teve três apresentações no auditório da Livraria Cultura Porto Alegre, em dezembro/09 e janeiro/10.
Logicamente o texto não foi montado tal e qual foi escrito. Problemas cronológicos e logísticos impediram que as quatro histórias que se revezavam no papel fossem devidamente apresentadas - e a cada novo projeto mais e mais se aprende sobre o ofício de teatrar - e no final apenas 2 tramas encontraram lugar nos olhos do público: a busca de Jurema pela verdade sobre o passado de seu noivo Afrânio e a trágica história do casamento de Herculano e Margô. Duas histórias que ocuparam 70 minutos da vida de uma plateia que se dividiu entre as gargalhadas irônicas da estreia e o silêncio tenso das últimas sessões.
"Pouco amor não é amor" não seria possível não fosse o esforço de uma equipe que se dedicou e muito ao trabalho. Ensaios em plena época de Natal, troca de horários, de folgas, problemas domésticos deixados de lado... Nunca fazer teatro foi tão difícil pra alguns e tão estressante pra outros... Mas o fato é que nosso filho nasceu. E assim como acontece com o parto quando a dor logo é esquecida quando se vê o rebento, tenho certeza de que o sacrifício foi válido no momento em que os aplausos surgiram e os elogios vieram. E certamente a vontade de continuar nesse mundo mágico do teatro se firmou em todos.
Obrigado a todos e vou nomear um por um: Álvaro, um Arandir/Herculano assustador; Dani, uma revelação absoluta e uma profissional exemplar; Fernanda, uma Margô sexy e uma atriz que teve que ser convencida a subir ao palco; Katia, que deu a volta em problemas particulares pra mostrar que compromisso é coisa séria; Lizandra, uma Alaíde impecável; Leo, um ator criativo até demais às vezes (hehehe) e Mely, uma Myrna sob medida. Agradecimentos também a Samuca, Ed, Fernanda Copetti, Samanta e Michelle pelo apoio nos bastidores.
"Pouco amor não é amor" ainda não tem novas apresentações marcadas, mas certamente ficará na lembrança daqueles que participaram da empreitada.