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HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO

Posted by Clenio on 10:11 in

Nesses dias de Carnaval, onde pessoas pretensamente alegres aproveitam para "viver a vida", se embriagando sem qualquer critério, tive a certeza mais do que absoluta - se é que ainda não a havia tido - de que meu "barato" é outro. Não há, pra mim, alucinógeno melhor e mais potente do que presenciar um grande ator - ou uma grande atriz - em cena. Me deixar ser carregado para um outro mundo, um outro universo, uma outra vida é, na minha opinião, a minha droga preferida. Digo isso apenas para apresentar a sensação indescritível que é assistir à interpretação de Kristin Scott Thomas no franco-alemão "Há tanto tempo que te amo" (Il y a longtemps que je t'aime), escrito e dirigido por Philippe Claudel.

Scott Thomas concorreu ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática ano passado, mas nem chegou a ser indicada ao Oscar por esse, que, sem sombra de dúvida, é seu melhor e mais profundo trabalho. Ela vive - e quando eu digo "vive" não estou sendo exagerado - a médica Juliette Fontaine, que, depois de uma condenação de 15 anos por homicídio, é libertada e vai morar com a família da irmã caçula, Léa (a ótima Elsa Zylberstein) enquanto tenta se readaptar à vida em sociedade. Sofrendo preconceito devido a seu passado nada recomendável, ela tem dificuldade em se deixar amar pelas sobrinhas vietnamitas, em se entregar à sincera amizade com um experiente colega de trabalho de sua irmã e até mesmo em ver a vida da maneira como via antes da prisão.

O que mais surpreende no filme de Claudel é sua economia de emoções. Apesar da trama sugerir cenas lacrimosas, sentimentalismos clichês e catarses emocionais, seu roteiro é discreto, sutil, elegante. É um filme de meias-palavras, de gestos contidos, de silêncios ensurdecedores. E são nesses momentos silenciosos que brilha a estrela de sua atriz principal. Ver os movimentos reprimidos e os olhares expressivos de Juliette - em especial na primeira metade do filme - não traem que sua intérprete é a mesma inglesa que fez a amiga solteirona de Hugh Grant em "Quatro casamentos e um funeral" ou a amante passional de Ralph Fiennes em "O paciente inglês". Aqui, Kristin Scott Thomas é outra, reinventada, visceral, impactante.

"Há tanto tempo que te amo" tem um final de deixar o coração pesado. Não é um filme leve, daqueles de sair da alma com facilidade. Durante as duas horas em que prende a atenção da plateia - de uma plateia com um mínimo de sensibilidade, deixo bem claro - o faz sem apelar para golpes baixos emocionais ou cair na tentação de descambar para o sensacionalismo. É aos poucos que o público vai desvendando como Juliette foi parar na cadeia, os motivos que a levaram até lá e de que forma essa dramática experiência mudou a sua vida. E desafio a quem assistir ao filme de não aplaudir de pé a atuação de Scott Thomas depois de suas cenas finais.

Um dos melhores filmes a que assisti em 2010. Bravíssimo!

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