THE COUCH
Imagine que você passou a vida inteira com o título de "intelectual da família", sendo cobrado dia e noite por causa dessa decisão unilateral de seus pais. Você não iria, na primeira oportunidade, se rebelar contra esse pesado rótulo? Não iria querer ser menos inteligente, menos erudito, menos estudioso?
O que você faria, quando atingisse idade suficiente, se alguém - qualquer alguém - lhe dissesse como você é lindo, sexy, gostoso, se desde que se entende por gente você nunca foi "lindo, sexy e gostoso"? Sim, seu irmão era lindo, sexy e gostoso, não você. O que você faria? Dispensaria quem conseguiu enxergar esse seu lado ou se agarraria a ele como uma a tábua de salvação? Você gostaria de ser julgado porque se deixou enganar por todas as outras pessoas que lhe disseram as mesmas coisas?
Como você reagiria se tivesse sido ensinado desde a mais tenra infância que Deus pode tudo, sabe tudo e condena tudo que foge de Suas regras e descobrisse, depois de muito sofrimento, que Ele, na verdade, se existe, é sádico e não está nem aí pra você? Respeitaria tudo que lhe forçaram a aprender ou rejeitaria a crença e se tornaria um niilista profano?
Você seria capaz de acreditar em você mesmo se a cada passo em frente em direção a sua auto-estima você voltasse três? Você acha que teria a capacidade de acreditar em belas palavras se o que é dito não é compatível com o que é feito? Você, sinceramente, acredita que alguém pode lhe amar incondicionalmente?
Se você sempre optasse pelas pessoas erradas você teria a consciência de que talvez faça isso porque não quer deixar pra trás o sofrimento? Você veria claramente que as cicatrizes que lhe marcam a alma talvez sejam suas companheiras mais fiéis? Saberia, com absoluta certeza, que refugiar-se em um amor passado é a maneira mais covarde de suicídio?
Se você tivesse medo de perder sua juventude - que é a única coisa que lhe parece mais importante e útil - você julgaria aqueles que sonham com a morte? Se você não tivesse nada de importante a perder, condenaria os que buscam o próprio fim? Se você se sentisse eternamente só - mesmo em meio a uma multidão ruidosa - estranharia que alguém desejasse o silêncio profundo do nada absoluto?
Imagine que você é elogiado, festejado, rodeado de amigos mas que nunca deixa de sentir-se pequeno, solitário e insignificante. Você seria feliz?