FILMES QUE MUDARAM A MINHA VIDA - CONTA COMIGO
CONTA COMIGO (Stand by me, 1986) Direção: Rob Reiner. Roteiro: Raynold Gideon, baseado no conto "The body", de Stephen King. Elenco: Wil Wheaton, River Phoenix, Corey Feldman, Jerry O'Connell, Kiefer Sutherland
Quando, nos minutos finais de "Conta comigo" o narrador vivido por Richard Dreyfuss diz que nunca mais na vida teve amigos como os que teve aos 12 anos de idade, é impossível não ficar com um nó na garganta. Se não pelo belo filme que está acabando, ao menos pela nostalgia pela qual pessoas sentimentalmente sadias volta e meia são atacadas. Lembrar de amigos de infância ou adolescência com carinho e saudade é algo de que ninguém escapa. Principalmente quando se começa a ouvir a bela versão de "Stand by me" cantada por Ben E. King muitos anos antes da gravação por John Lennon.
"Conta comigo" é baseado em um conto de Stephen King chamado "The body" (presente no livro "Quatro estações", no qual também estão presentes os textos que deram origens aos ótimos "Um sonho de liberdade" e "O aprendiz"). No entanto, ao contrário do que se pode esperar de um filme com a griffe do escritor de terror mais conhecido do mundo, não trata de monstros, nem de alienígenas nem tampouco de pais de família enlouquecidos e psicóticos. "Conta comigo" fala sobre lealdade, frustrações e acima de tudo, de pessoas e de períodos na vida em que nada parece ser mais importante do ter amigos que nos entendam.
Os quatro protagonistas do filme de Rob Reiner são pré-adolescentes com uma saudável cota de tensões familiares. Gordie (Wil Wheaton) é relegado a segundo plano por seus pais, que não são capazes de superar a morte de seu irmão mais velho, com quem ele mesmo tinha uma relação de extrema admiração; Chris (River Phoenix em seu mais emblemático papel) é considerado por todos como um pequeno marginal, sendo eternamente comparado a seu irmão mais velho; Teddy (Corey Feldman) tem que lidar com seu pai violento, traumatizado por ferimentos de guerra e Vern (Jerry O'Connell), aparentemente o menos problemático do grupo, sofre por excesso de peso e timidez. Amigos de fé, os quatro resolvem fugir de casa para procurar o corpo de um colega de escola que foi atropelado por um trem. Na superfície o que eles querem é uma aventura para contar aos netos. Na verdade trata-se de uma fuga, ainda que efêmera, de suas vidas complicadas.
Como se costuma dizer, o que importa não é o destino, e sim a viagem. E o roteiro de Raynold Gideon (indicado ao Oscar da categoria) oferece aos meninos e à plateia uma viagem inesquecível. Estão em cena as inocentes brincadeiras infantis dando lugar às maliciosas piadas de duplo sentido, os traumas sendo expostos em meio a lágrimas, o medo e o anseio pelo futuro, a união perante o inimigo (representado tanto pela natureza, em forma de sanguessugas, cães ferozes e trens a toda velocidade quanto por um cruel Kiefer Sutherland)... São cenas de uma delicadeza ímpar no universo de filmes com/para adolescentes, e mesmo quando apela para a escatologia - o concurso de tortas é uma sequência inesquecível - nunca deixa de lado sua pureza e ingenuidade. O final, agridoce, dá uma vontade quase irresistível de chorar - e lembrar que River Phoenix morreu tão cedo ainda aumenta a melancolia...
"Conta comigo" é um filme que deveria ser obrigatório nas escolas de ensino médio. Através dele se aprende como ser amigo, honesto, verdadeiro e sensível. E aprende-se principalmente que nunca se tem amigos como os que temos aos 12 anos e que mantê-los, nem que seja na lembrança, é um dever para com nossos corações.
AVISO: Essa seção não tem a menor intenção de reiterar escolhas de críticos ou babar ovo em cima das maiores bilheterias da história (aliás, bilheteria é o que menos importa aqui). Todos são filmes que, por um motivo ou outro fizeram da minha vida algo melhor, por razões mil. É uma lista bastante aleatória, democrática e os títulos que dela participam tem apenas uma coisa em comum: são filmes que vi, revi, trevi e verei sempre que meu coração mandar.