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PARA UM AMOR EM PARIS...
Para D., meu amor estrangeiro
Ele sempre sonhara com um amor assim. Se apaixonar por um estrangeiro, com ar misterioso (para ele, todos os estrangeiros tinham ar misterioso). Um caso de amor avassalador, urgente, com um quê de proibido e impossível. Um romance com data de término, onde cada segundo fosse importante. Uma história sem o peso de cobranças, de ciúmes insensatos, de tédio. Para ele, acostumado com a mesmice de relacionamentos sempre a um passo do previsível, um grande amor precisaria de todos esses elementos. E ele sempre achou, do fundo de seu pessimismo de estimação, que isso jamais aconteceria com ele. Mas eis que ali estava: a sua frente, a poucos centímetros de distância, comendo sushi, estava a pessoa com que ele sonhava desde que teve a noção de seus próprios desejos e objetivos. E essa pessoa, como convinha ao desfecho melancólico de sua trama, estava indo embora.
Haviam se conhecido há cerca de um mês, em uma dessas festas da moda. Foi só um beijo no pescoço e pronto... a magia estava começando. Ele não era do tipo de fazer essas coisas - beijar desconhecidos no pescoço, eu digo - mas algum mecanismo oculto o levou a violentar seus próprios escrúpulos e ele o fez. O fez timidamente, mas o fez. Não sabia que consequências deflagraria um gesto simples mas corajoso - ao menos de sua parte - como aquele. Mas o fez. Esperou um tapa, um soco, uma saraivada de impropérios. Mas nada disso aconteceu. Do beijo no pescoço surgiu um sorriso.Do sorriso, uma conversa. Da conversa, um beijo na boca. Do beijo na boca...
Se encontraram novamente. Ele era francês. De mãe brasileira. E era lindo. Louro, inteligente, com um sotaque de arrepiar. E era cheiroso. E tinha a cultura inútil que sempre é necessária para conversas jogadas fora. E era apaixonante. E sedutor, e sexy. Ficaram juntos. Trocaram figurinhas. Cazuza foi exportado para a França. E mesmo com um sotaque horroroso, o brasileiro lhe telefonou para desejar um "Feliz Natal" em francês. Soou bonitinho.
Menos de um mês. E eles estavam se despedindo. Triste, sim. Mas sem o peso de uma despedida triste. Provavelmente nunca mais irão se encontrar pessoalmente. A tecnologia certamente os ajudará a jamais perderem o contato, mas nunca mais será a mesma coisa. As confidências que trocaram com as pernas enroscadas um no outro nunca mais serão ouvidas. Os beijos delicados que concederam um ao outro jamais serão repetidos. O cheiro um do outro ficarão apenas na memória olfativa... Mas em compensação nunca terão discussões banais, nunca enfrentarão a rotina, não irão se incomodar um com a presença do outro em momentos que a solidão necessita de espaço.
Algo que dura pouco na realidade vive para sempre na memória. E esses poucos dias viverão eternamente dentro daquele coração estragado por filmes românticos e músicas sentimentais. Para todo o sempre, o rosto que viverá em sua recordação será o mesmo que está a sua frente, comendo sushi...